Morreu o Homem , Viva o Poeta!
Herberto Hélder 1930-2015
Se gosto da obra posso não ter vontade de conhecer o autor. Tive contactos que puseram pés de barro a alguns dos meus ídolos e os iluminaram de humaníssima mediocridade. Nunca o voo é permanente por se cansarem as asas, nunca os génios se esquecem da pele que têm para viver e viver, nos caminhos da terra, faz dos génios que amamos gente comum. Há quem, em vida dos Poetas, se honre honrando-os. Há os que, morto o Homem, lhe saprofitam a fama e, ainda outros que, porque conheceram vivo o arquétipo e o visitaram no mais sombrio de suas sombras, se acham herdeiros únicos do direito de recordar, homenagear, prantear ou publicar a obra como quem canta um Requiem. Conheci Herberto Hélder em 1978 e via-o muito a visitar as exposições na Galeria Tempo, em Lisboa. Poucas vezes conversámos. Lia-o para o conhecer mais mas, frequentemente, ficava à porta do entendimento. Só muito depois, quando já não nos víamos nem falávamos, as suas palavras, fechadas até aí, me deram o recado inteiro. Hoje foi embora o homem tímido, o guerreiro da palavra. Deixou a obra a todos razão pela qual todas as lágrimas, se lágrimas houver, são de água e sal. Como as bolachas.