Um grande homem

Outro dia, olhando meu velho, comecei a me lembrar de quando era pequena. Dos momentos que passei ao lado dele. Sei que ele acordava cedo, como hoje ainda o faz. Ia para o trabalho e sempre voltava à noite. Lembro-me de momentos muito agradáveis, como por exemplo, quando íamos para o quintal e assávamos uma carninha. Lembro-me também, de que no início das aulas ele separava meus cadernos e decorava as primeiras páginas com letras trabalhadas, escrevendo o nome de cada matéria. Ele até desenhava para mim. Aos sábados tinha Viva o Gordo e aos domingos, Os Trapalhões. Ríamos muito. Já um pouco maior, lembro dele me levando para a escola. Eu e minha irmã. Eu preferia ir andando com ele a ir de kombi. Já mais velha, ele me acompanhava até o terminal rodoviário para eu pegar o ônibus para a faculdade. Era de madrugada ainda e ele não me deixava ir sozinha no escuro. Nessa idade, fiz algumas malcriações, dei um pouquinho de trabalho. Aquele homem rígido, grosseiro, para muitos até ignorante, sempre me olhou com ternura. Nunca me levantou a voz. Sempre me respeitou. Sempre falou firme. Sempre fez brincadeiras. Com ele aprendi a viver com bom-humor. Um dia chegou a hora de me separar e encontrar um amor para mim. Tarefa dificílima! Os homens não chegam nem aos pés dele. Vi muitos deles largando suas esposas, inclusive grávidas, sem ao menos ligarem para saber como estão, sem ao menos se preocuparem com as crianças. Ele não faria isso. Vi homens com um bom emprego e não quererem nada com a vida. Vi também gente que precisa de trabalho, mas morre de preguiça. Gente que gosta de viver à custa dos outros. Ele já esteve desempregado, mas nunca o vi esparramado em cima de um sofá. Sempre acordou de manhã e honrou com seus compromissos de pai de família. Não me lembro de ter me faltado nada. Outro dia, vi um homem já casado, com filhos também crescidos, querendo morar de graça, com água e luz por conta dos outros. Ele, não. Em uma situação mais complicada, foi para o meio do mato com uns dois pedreiros e apenas com a cara e a coragem, ergueu sua casa. Hoje é uma linda casa. Um lugar muito agradável, aonde nós vamos sempre, por ter a certeza de encontrá-lo sempre ali de braços abertos. Já vi muitos doutores “amarelando” diante de situações até difíceis, com medo de impor sua autoridade. Nessas ocasiões, a conversa seria outra, caso fosse com ele. Na hora do vamos ver mesmo, ele não deixa por menos. Sempre o vi respeitando seus pais, esposa, filhos e amigos. Assim também o faço e assim procuro ensinar às crianças. Quero criar homens de verdade que nem ele. Para mim, ele é o melhor homem do mundo.