Limoeiro pródigo
Pra dar limão como aquele limoeiro, tá pra existir. E nem chegava a espantar o tamanho do arbusto, ou o de seus frutos, embora com aquele biquinho pronunciado, os mesmos estivessem a sugerir coisa do paraíso. Mas paraíso pra criança é mais poder trepar do que chupar. E chupar, só fruta doce.
A prodigalidade do limoeiro, entretanto, era coisa que saltava, e adoçava, os olhos, com a vantagem de ser maior o número de limões do que o de espinhos. E os galhos mais baixos até permitiam que a meninada neles subisse, ainda que nem precisasse.
E ainda tinha a vantagem de ter crescido na porta da cozinha, antes até que a cozinha fosse ali construída, como um crescente à casa. Mas como consumir aquela limoada toda? "Ponche" era doce, refrescante e sublime até, mas tinha o seu limite de consumo. E antes de tomá-lo, havia que prepará-lo. E criança não é de ter muito "sufrimento" para isso. Demais, bebido além da conta, o "ponche" enfara. E aí, se pára?
Havia a alternativa da venda dos limões, pois era raro o quintal que por al,i no Brumado povoado, tivesse um limoeiro que fosse. E pra se comparar àquele, quase impensável. Assim, nas travessas e latinhas saíamos a vender limões, a quatro por um Tamandaré. E um Tamandaré, se muito, dava um picolé - da era pré-kibon.
Contudo, enfrentar aquele solão, a insolência de eventuais compradores e outros menores dissabores, eram empecilhos de todas as cores. Bom, ou dom, foi o dia em que o Geraldo, que trabalhava num bar em Belorzonte - mais propriamente na Cidade Industrial - veio nos visitar e com a visita surgiu a idéia de limão se exportar - pra capitar.
Foi coisa de encher o saco. Daqueles de aniagem. E mais de uma partida foi feita, seguindo de trem. Como convém. Com pouco, veio também o tempo de nossa mudança. Sem pernas, não nos acompanhou o limoeiro, senão na doce lembrança, assim como todo aquele terreiro.