Era uma vez uma rosa... 
In memoriam
 
E Deus, com sua infinita sabedoria, criou um enorme jardim, a perder de vista, com grandes, médios e pequenos canteiros, lagos de água cristalina e azulada e trilhas atapetadas de verde.

Nele plantou flores, muitas flores, de todos os tamanhos, formatos, cores, qualidade, das mais sofisticadas às mais simples, que exalavam suaves perfumes e destilavam seus néctares.

No entanto, chamava a atenção um canteirinho vazio. Por quê? Por algum tempo despertou a curiosidade de colibris, borboletas, abelhas e passarinhos que vinham em busca de paz, alimento e beleza.

Certa vez, ao voejar pelo jardim, uma singela borboleta notou que haviam nascido três rosas no canteirinho. E nos dias subsequentes já eram quatro... seis... oito... 11... 13 rosas. Cada qual com seu perfume, seu colorido, seu formato e sua textura de pétalas, mas unidas pelo bem, pelo respeito, pela sabedoria, pela alegria, pela amizade... Laços fortes as cingiam. “Lindas rosas”, pensou a borboleta. “Lindas, não, Lindinhas. Tornam risonho seu canteiro. Cantinho risonho, eis o que faltava neste éden”.

Entre elas, uma em particular gostava de dançar ao vento, abria suas pétalas e balançava-se feliz, alegre... Como era bom vê-la movimentar-se embalada pela melodia da vida! Era a rosa bailarina.

Um dia, a chuva pegou a borboleta desprevenida, e ela abrigou-se no cantinho risonho. Era impressão sua ou as rosas não riam, estavam tristonhas. Examinou o canteiro com mais cuidado. “Só 12 rosas?” Voou para todos os lados, para o alto (epa! a chuva!), para o chão, nem sinal da que faltava.

Olhou para o céu: ”Por que, Deus?”.

Teve certeza de ouvir uma voz:
“Eu precisava dela aqui comigo para me assessorar nos quesitos alegria e coreografia, por isso enviei minha emissária branca apanhá-la”.

“E nós, Senhor, como ficamos aqui sem nossa rosa bailarina?”

O silêncio foi a resposta.
 
Imagem: Google