Os Filhos de Ti Dona
Não tenho tido tempo para escrever, mas por se tratar de um momento especial em que minha memória se volta para o passado e vejo como minha família é linda, decido tirar um tempo para registrar os momentos felizes que passamos juntos.
O registro familiar é importante para mim, talvez também para eles. Não escrevo com requinte, porque esse dom não me foi ofertado e não disponho de tempo para aprimorar minha escrita. Mas só porque não sei escrever não significa que não possa registrar o que me emociona e faz crescer, o que me faz bem e feliz. O Sol, a praia foram criados por Deus para todos independente do padrão de beleza vigente. Acredito que a escrita também.
Hoje não diria que estou triste, mas já sinto a saudade dos meninos de Ti Dona que partirão para Ilhéus daqui à pouco. Dezesseis horas de viagem, dezesseis horas de distância. O que será de mim sem as companhias de Hilton e Uener? Este com apenas dois anos de idade, acompanhava minha trajetória de estudos para passar no vestibular fazendo-me companhia à escrivaninha, e com seu caderninho preenchia todas as linhas com seus risquinhos, sobe serra, desce serra ininterruptos.
__Pronto, tia, já terminei. Tem mais? Deixa eu olhar pelo seu.
E olhando minhas anotações mais uma folha de seu caderninho era preenchido com suas tentativas de escrita.
Eu sou muito rica, na verdade eu sou a pessoa mais rica que conheço. Sou rica de sobrinhos. Sou rica de bons momentos com todos eles. São tantos que perdi a conta. KKK. Sério. Sou tia avó também. Tenho sobrinhos que ainda não conheço.
Mas todos tem em meu coração um lugar especial Hoje minha homenagem vai para os filhos de Luzinete (Ti Dona para minha filha Maria Adélia).
Eles nasceram na época que ingressei na carreira do magistério. Hilton André foi o primogênito, o caçula, Uener. Minha irmã é uma pessoa muito especial na vida de todos nós. É um exemplo a ser seguido, principalmente em fé e coragem. Ela é minha segunda mãe apesar de não ter idade para sê-la. Sempre tive nela a certeza de um ombro amigo, por isso que seus filhos são tão importantes em minha vida.
Quando Hilton André nasceu insisti para batizá-lo. Ela já tinha os escolhidos, tenho certeza, mas me concedeu esse presente. O segundo, Uener é aquele, cuja bochechas ainda não tirei da memória. Não se afastava de mim quando eu estudava e escrevia. De tanto acompanhar minhas aventuras com as letrinhas, desde os dois anos de idade, mais tarde tornou-se “escritor”. Escreve para o Recanto, com o pseudônimo Yenis Ribeiro. Tem livros escritos, precisando de uma forcinha para publicação.
Hoje faz Biomedicina. Tanto ele como Lândia e Afia se parecem muito comigo na questão estudo e dedicação. Somos muito afins na questão estudo e sua importância em nossas vidas.
Mas é claro que Hilton e Uener não iriam gostar de ler esse texto sem umas gargalhadas básicas, principalmente se o motivo das risadas fosse eu. Não esquecemos da fase dos ratos que me visitavam incessantemente todas as noites. Estava eu a dormir usufruindo o sono dos justos quando um barulho típico dos roedores na cabeceira da cama e logo em seguida gritos de pavor. Para quem me conhece sabe que não economizo garganta na hora do medo. Nada de ficar paralisada, é gritaria e alarde quando o pânico me invade. Os gritos eram ouvidos lá da casa deles.
___Hilton, Uener, tem uma gangue de ratos no meu quarto.
Prontamente os soldados se dirigiam ao local do crime. Os bandidos, indivíduos de alta periculosidade desciam pelo orifício por onde passava o fio da antena. Os ditos cujos eram oriundos do depósito do vizinho. Uener fazia vigília com seus instrumentos de trabalho: um martelo e um saquinho de plástico no canto da porta, pois segundo sua teoria os ratos não circulavam pela casa no meio das portas. Os invasores passeavam sempre nos cantinhos das paredes. Assim o pesquisador nato já deixava uma armadilha de plantão e o ratinho ia direto para o fundo do saco. Vitória do soldado Uener. Hilton preferia imprensá-los com a vassoura.
__Tia, é melhor a senhora não ver essas cenas fortes. São demais para o seu equilíbrio emocional. Fique lá em casa enquanto damos cabo dos bandidos.
Nas férias eu me lembro dos filmes que assistíamos juntos. “Parque dos Dinossauros” era o preferido deles. Mas um dia resolvemos assistir Anaconda 2. Eles bem que me disseram que não era uma boa ideia, mas apesar do medo de cobras pensei que já era hora de superar o medo dessa criatura rastejante nem que seja daquela virtual. Mesmo porque na Bíblia está explicito que a mulher esmagará a cabeça da serpente com o calcanhar (Gênesis, 3-15). O problema é que Deus esqueceu de conceder-me a coragem para tal.
___Ora que há mal nisso? Eu sei que as cobras são de mentira. Declarei preparada para a nova aventura.
Todos a postos de frente da televisão: pipoca, refrigerante e almofadas. Estas não podiam faltar. Gênero de primeira grandeza e necessidade. Uma para recostar minhas costas, outra para apertar na hora das cenas fortes.
Pois é, na cena mais forte, eu só me lembro da lâmpada no teto balançando, a almofada voando, o grito ecoando e o pescoço de Hilton nos meus braços enforcando. Bom! Agora do filme de aventura abrimos a sessão comédia porque ninguém conseguia parar de rir.
Num tempo não muito distante resolvi estudar pensamentos positivos. Depois de estudar com afinco escrevia as afirmações positivas. Achei melhor produzir um mural para o meu quarto com uma frase positiva do dia, mas tinha que ter ilustrações, desenhos, como eu não era boa nisso, eram convidados Lindinês, minha outa sobrinha e Uener. Ficavam horas decorando minhas folhas para depois eu escrever. Tempo bom. Acho que vou produzir um mural no meu quarto de novo. Quem vai decorar? Maria Adélia?
Hoje, crescidos, Hilton e Uener indicam filmes, séries. Sabem tudo sobre mim, as tristezas, os sonhos, os gostos e até os desgostos. Torcem por mim e acredita muito na minha capacidade. Lembro-me quando cheguei eufórica na casa deles para anunciar minha mais nova vitória.
___Gente, passei no mestrado. Pode?
__ Claro! E a senhora tinha dúvida?
Eles tinham tanta certeza que o contrário é que seria surpresa.
Hilton é aquele que se organiza nas visitas. Tem sempre um dia na semana para visitar Maria Adélia. Quando estou doente, Uener é o meu companheiro de oração, leituras bíblica, meditação.
Uener indica livros, reportagens, entrevistas, músicas. Selecionou 102 músicas católicas para mim.
Hilton é meu ajudante quando preciso dar formação ou cursos pedagógicos ou até mesmo trabalhos do mestrado: ele formata, põe música, baixa clipes, indica vídeos, etc, etc.
Hilton baixou uma sequencia de filmes com a certeza que eu iria gostar.
Quando encontro títulos de filmes: eles são honestos.
__Tia, a senhora não vai gostar desse. É muito violento. A gente conhece a senhora. Ficará um mês em dormir. Assiste este, cujo tema é fé, valores, romances, ensinamentos pedagógicos parece com mais com sua filosofia de vida. Eu nem sei qual a minha filosofia de vida. Kkk.
Eu os vi nascer. Ajudei a educá-los, mas eles me conhecem mais do que eu mesma.
Há riqueza melhor, ou maior?
Amo vocês meus queridos, que são meus filhos de coração e Maria Adélia os chamam de meus irmãos 1 e 2. Eu posso dizer que tenho três filhos: dois meninos e uma menina. É! Realmente eu sou rica!!!
Luz Ribeiro, 16 de fevereiro de 2015