Nequinho de Barros

Nos rituais de quem vê o mundo reto demais,

Três dias de luto,

Três minutos de silêncio,

Três Ave-Marias...

Diz que o menino, que nunca quis obedecer à arrumação das coisas,

Saiu a aventurar-se no seu voo mais verdadeiro...

Decidiu por um céu aqui mesmo na terra.

Amante do chão que sempre foi,

Pudera!!!

E encontrou um Deus-borboleta...

E nas peraltagens de menino,

Anunciou que seu tempo foi amarrado num poste,

Seguro com corda tecida de palavras...

Nunca escapa!

Foi ter com seus entes, e desviu qualquer dor,

Porque no mundo de suas realidades inventadas

Era ritual poético.

Três eternidades de palavras,

Três mil tons de azul compondo o céu,

E três gerações de seres desimportantes ressignificando o mundo!

Nenhuma coroa enviada às pressas...

Eram o pote abandonado e o sapo seco com suas rosas paridas.

Nenhuma orquestra pronta e impessoal...

Era um passarinho à toa fazendo cantiga.

Depois um concerto a céu aberto, com solos de ave.

Nenhuma fabricação do homem (que sempre vira sucata!), para descansar sua casca...

Era a árvore com a casca de cigarra,

E agora com a casca de homem, pronta para poesia.

Nenhuma oração velha e caduca, sem intenções pessoais...

Eram as palavras de um Guató,

Para quem é de bugre,

Cheias de riqueza em essência.

Nenhum objeto para guardar em memória...

Era o rio que foi presente,

Que importava mesmo continuar correndo,

Reafirmando a liberdade, que sempre caça jeito!

Nenhuma pintura de santo para o cenário...

Era o desenho sem lápis, de uma parte do tempo humanizada,

Era a manhã de pernas abertas ao sol!

Não eram os doutores e os filósofos a explicar a passagem...

Eram os caramujos e as latas abandonadas,

Que estes sim, entendiam de tempo,

De processo....

Não era um corpo cansado que partia do mundo,

Mas uma alma criança a ganhar o mundo.

(Eva Vilma)