Mais do que nunca minha veneração por Tim Maia continua impecável e implacável.
Desde os meus tempos de "broto" e ainda hoje, aos 55 anos, sua incomparável voz, aquela caixa de ressonância que fazia, faz e fará para todo o “sempre”, ressoar em mim uma junção de sentimentos quase que inexplicáveis. Sem explicação, porque quando Tim largava aquele vozeirão sem breque, melodiando “Ééééé... Primaveeeeera... Te amuuuuu... Meu amooooor!!!” Nunca, mas nunca mesmo, alguém cantou a beleza do puro amor com tanta eloquência e intensidade.
O lugar de Tim era o primeiro em todas as paradas de sucesso! Arrebatada por sua voz, no florescer dos meus quinze anos, tinha a certeza da existência de amores do tamanho que ele cantava... com toda a sua negritude e seu cabelão à moda lechiguana.
A dor dolorida expressada nas músicas que ele fazia, doía no coração da juventude que vivia a ditadura militar e Tim, além desses tempos ácidos, vivia na “sua” pele, a ditadura discriminatória por ser negro, pobre, gordo, crespo... Com isso, perdoem-me o nosso Rei, o Tremendão, o Caetano..., aflorou sua rebeldia ao ver seus parceiros, mais “apessoados”, bem apadrinhados, se ajeitando com a Bossa Nova e ele, o talento nato e vocal do grupo, a ver a banda dos amigos passar, bem à moda brasileira de hoje.
Sebastião... Tião... Tim não deixou o barco de seus talentos à deriva! Foi “tentar a sorte” na música muito além dos " ...sete mares...”, nos Estados Unidos, com uma mão na frente e outra atrás da sua utopia. Sem a compreensão da língua, longe da Pátria, sem o colo da mãe, dos amigos e principalmente, da amada, arrumou algumas encrencas naturais para um jovem indignado com as voltas e revoltas de sua vida. Mesmo assim, aprendeu a cantar em inglês e a fazer belíssimos arranjos musicais. Ao retornar ao Brasil, Roberto Carlos fez um tremendo sucesso com arranjos de Tim, porta entreaberta, fresta bem aproveitada, que acabou alavancando sua carreira.
Ligar o rádio e ouvir os primeiros acordes desse fragmento: “Quaaaando o inveeerno chegaaaaar... Eu quero estar junto a ti..." O tom, o timbre, a intensidade de sua voz, eram suficientes para, como num passe de mágica, transpormos os umbrais das Estações e nos arrepiarmos de frio em pleno Verão, com a nítida sensação de já estarmos sentindo o calorzinho do encontro de Tim com o seu amor... No Inverno, que já estava ali!
Mais do que nunca, senti o que já pressentia na voz e nos gestos de Tim Maia, desde menina!?! Exalava uma liberdade sem ser livre... Presa a uma tristeza sem fim, interpretada e revelada na autoria de suas letras inesquecíveis.
Cada novo disco dessa voz inconfundível do Brasil, garantia a nossa geração, o passaporte para contatos diretos e em todos os graus com nossas próprias almas, que passavam a cantar e dançar Tim, porque no fundo, bem lá no fundinho do seu inconsciente ou... consciente talvez, cantava a sua vida, contava seu estado de espírito e, por isso mesmo encantava uma legião de fãs.
E mesmo agora, depois de assistir o documentário apresentado pela mídia brasileira, às vésperas de 2015, sinto que parte do véu ainda cobre a imensa tristeza de Sebastião Maia, possivelmente por ter sido excluído do processo natural do que seria uma carreira bem-sucedida, de uma voz grandiosa como a dele, que esperneou muito para ser reconhecida por seus pares.
Afinal, não dá para esconder uma fogueira debaixo de uma mesa! Se você, Tim, soltasse sua voz no interior da mais longínqua aldeia do Berço da Humanidade, ainda assim incendiaria nossos corações! Você será sempre a luz inconfundível, do início ao fim do túnel de todos os tempos, da mais perfeita emoção já emitida pela voz humana em terras brasileiras e, “...Venha o que vier”, será uma referência implacável na luta por espaços “democráticos” de acesso às artes para novos e velhos talentos.
Mas que beleza termos nascido nesse País tropical, abençoado pela voz fantástica de Tim Maia!
Sempre será um privilégio ouvi-lo! Brindemos, Tim!
Tim-tim, TIM!