Heroina

Minha mãe é uma heroina, viveu, batalhou, cresceu em um lugar de poucos recursos, conseguiu sobreviver ao abandono, a tristeza pela perda mãe, tão precocemente.

Foi deixada em um lar de menores, fugiu, tentou a vida em São Paulo, onde conheceu pessoas, inclusive meu pai. Casou-se, foi feliz talvez, teve dois filhos, viveu aos traços e barrancos com meu pai, não teve coragem para se separar, mas quem pode condená-la. Época difícil, tudo muito machista; sofreu, chorou e ficou com muitas mágoas, rancor
tudo conspirava contra ela, assim ela achava, não conseguiu permanecer muito tempo em empregos, não ajuntou dinheiro porque não sobrava.

Chorou, sofreu e remoeu muita coisa.

Casos do meu pai, falsidades, indiferença , mentiras e agora na velhice sofreu o impacto de um AVC que lhe deixou sequelas. Atualmente sofre ainda a tristeza de ter perdido a mobilidade, a capacidade de se comunicar, o pensamento abstrato também lhe falta.

Chora, sofre em seus 74 anos, continua a lutar com o que lhe restou não tem expectativas, só se imagina vivendo diferente, sem necessitar dos filhos e do marido, que depois de tanto dissabor é quem cuida mais dela, mesmo ele sendo idoso.

Uma heroina porque sofreu, chorou, foi infeliz, adoeceu e nunca desistiu de viver, mesmo quando nós da família não acreditávamos nela e em sua recuperação.

 
Teve força para suportar abandono, doenças, desprezo, indiferença e até ingratidão.

Heroína! !!
Lia Fátima
Enviado por Lia Fátima em 08/01/2015
Reeditado em 29/09/2018
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