FRANCISCO GALDINO FILHO
O HOMEM DE NAZAREZINHO
A poesia de Francisco Galdino Filho faz eco em minha infância sertaneja, mas é bem mais do que isso, é a própria região inóspita a reverberar sua força em forma de verso. Mergulhei em seus textos como fazia na preciosa água, tão rara por ali.
A densidade do excelente texto "A uma Prostituta", diz e provoca muito:
Gosto do que vejo
Os haikais de Guilherme
Niestchzeanidades
Quintanias
Mas parei aqui e me quedo à vilania
Que consome nossas Vilânias
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Quase uníssonos em "Natal & Natal":
Esquecem o nascimento
Daquele que é o autor
Da vida e do mandamento
Que se resume no amor
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Respondendo alto a pergunta sobre quem é "Deus":
Aquele que há de consolar todos os prantos
Aquele que é e habita o Santo dos Santos
Aquele que alumia os versos meus e teus
Aquele a quem ousamos chamar Pai: Deus
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Ele fez uma "Ode à Morte" e eu falei do(meu) medo dela:
Aqui e acolá me iludo
E penso enganar Caetana
Adoto vida cigana
Pinto o cabelo e me mudo
Quando em minhas preces rogo
Sei que a vida não prorrogo
Deus me dar poesia é tudo
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Aqui lhe emprestei uma veste e ela voltou mais brilhante pois "A Alma Veste Chita":
Valeu meu poeta caro
Tu és um achado raro
Ser por ti parafraseado
É honraria em atacado
Do mandacaru és flor
Do meu sertão és pastor
És minha vida de gado
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Atravessando a "Aldravia XXXI" com ele de guia. E eu de cego:
Poesia
Galdina
Adoça
A
Vida
Ensina
E
Convida
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Rimando, em disco arranhado, com o sobrenome ilustre em "Meu Nome é Ariano Suassuna!"
Eu nasci bem vizinho a Uiraúna
Mas me lembro de escutar a graúna
Em Souza debaixo duma braúna
Vim pra longe virei fã de Suassuna
Mas meu peito só com o sertão coaduna
(com certeza não precisa de nota pra traduzir nada, já que és a própria tradução do sertão)
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Desconfiados, ambos, de um certo gringo Django. O nome do faroeste era "O Mundo Pós-Busch", eu assisti no Cine Moderno:
Quase três anos atrás
Já acertavas na mosca
Viste a marionete tosca
Manipulada por trás
Diferente só na cor
Mais um cauboi sem pudor
Dos inimigos da paz
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Sei que não era pra mim, era "A um Grilo", mas bem que poderia ser, pois me sei cri-cri:
Já tava quase no fim
Esbarrei já "mei" cismado
Será que isso é pra mim
Que comento no atacado?
Amigo te dou o mote
Acenda a luz e me enxote
Pois aborreço um bocado
(É provável que eu esteja atrás do pote, se não tiver cururú é claro)
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E aqui a cantiga do grilo para comentar o seu "Poema em 3ª Dimensão":
Quando me ouvires comentando
Por certo gostei do enredo
Se ao comentar for rimando
Pode crer não é segredo
É minha alma que canta
A cantilena que espanta
A dor e também o medo
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Ganhei um dos seus bons "Verbetes" e voltei pra agradecer:
És o mestre do vernáculo
Dizendo isto eu declaro
Vejo aqui muito vocábulo
Achado pra lá de raro
Nesta minha caminhada
Cinqüenta anos de estrada
Fui duas vezes preclaro
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Era uma cantiga "Para Ninar Gente Grande". Mas me fez perder o sono:
O que importa é o teu grito
Que alardeia ao infinito
Fica difícil dormir
Sem parar de te ouvir
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Aqui o assunto era "Marketings I", mas acabei num acidente da festa da padroeira:
Deixei de tomar cocacola
Cheirar nunca cheirei
Nem uma nem outra
(Será que fiz um Haikai? Pra mim, ai kai!, foi quando vi uma jangada voando na festa da estação)
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Extasiado com ele "Nos Tempos do Rapa-Côco":
Encantado com tua verve
Homem de Nazarezinho
Que da poesia se serve
Pra voar longe do ninho
Falar com profundidade
Mantendo a dignidade
Do meu sertão com carinho
Eu que nasci em Antenor
Mas me criei na Estação
Conservo até hoje o amor
Pelas coisas do sertão
Costumo dizer e é fato
"Até que nóis deixa o mato"
"Ele num deixa nóis não"
Obrigado Mestre Francisco!