Leitura da Rua (5)
 
 
Homenagem a Samuel Klein, da Casas Bahia, por seu jeito despojado e interessante, que serve de exemplo de como se conduzir na vida.
 
 
 
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Meu Amigo Samuel Klein
                
Sentado no “Banco Brasilino de Descanso”, no Jardim Rafael, em Caçapava, ali colocado em homenagem ao meu Pai, também Brasilino, que gostava nele se sentar para prosear, quando puxei uma conversa com o amigo Jaime, que me disse que estava triste, e lhe perguntei por quê ?
 
- Ué, você não tá sabendo, o Samuel Klein morreu ?  Ele tava com 91 anos, que fez no dia 15 de novembro passado. 

Disse-me ele com ar triste e de intimidade com o falecido.

 
Somente depois de alguns segundos me caiu a ficha de quem era Samuel Klein.

 
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Samuel Klein era polonês e depois de ter vivido em campos de concentração na Europa, fugiu para o Brasil, e na região do Bom Retiro, em São Paulo iniciou a vida de comerciante, com vendas de produtos de cama, mesa e banho, de porta em porta.  Depois adquiriu uma charrete para melhor atender seus clientes, pessoas de baixo poder aquisitivo, mas que, no entanto, dele recebia toda atenção, respeito e crédito.
 
Quando o cliente dizia que não queria comprar, pois não poderia pagar, ele dizia: “Você está precisando do produto ?  Fica com ele e pague como puder, é tudo no crediário”.  Negócio feito.

 
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Meu amigo Jaime falava do Samuel Klein como se fosse pessoa de sua intimidade, que lhe estivesse muito próximo, tivessem estreito relacionamento pessoal.
 
Continuou meu amigo:
 
- Brasilino, você sabe que eu sempre lutei com muitas dificuldades na vida, nunca tive dinheiro sobrando, e como se diz, trabalho para ganhar o almoço e guardar um pouquinho para a janta, e no dia seguinte a mesma coisa, pois na capina e limpeza de lotes o dinheirinho é minguado.
 
Mas sabe de uma coisa:  Há mais de 35 anos precisei comprar um fogão e não tinha dinheiro, quando soube da Casas Bahia vendia fiado, e meio ressabiado fui até lá pra saber se podia comprar o tal fogão.
 
- Não deu outra, seu Alípio, o vendedor da loja pediu comprovante de renda.
 
- Ele ficou espertando minha resposta, que no momento não veio, pois nem sabia o que ele tava falando.  Nem sabia o que era comprovante de renda, pois se eu não tenho renda, como teria o tal comprovante ! Ai pensei, já deu rolo.
 
Ele ficou em pé dum lado e eu do outro, quando pensei:
 
- É rolo feito mesmo, vou voltar sem meu fogão pra dar de presente para Neuzinha.
 
Mas em seguida Alípio disse:
 
- Seu Jaime, não tem problema não, estou vendo que o senhor não tem o tal comprovante de renda, mas liguei para o senhor Samuel Klein e lhe disse isto, mas que estava vendo que o senhor tem uma carinha de boa gente, e seu Samuel mandou lhe vender o fogão, e ainda me disse para te entregar a compra até amanhã ao meio dia lá em Caçapava, pois se não fizer isto estou despedido. Ele ainda mandou dar um cobertor de presente para o senhor.
 
- Seu Jaime veja o carinho com que o Samuel está tratando do senhor, disse Alípio.
 
- Ó Brasilino fiquei numa felicidade só, pois nem conhecia o tal Samuel, mas como o Alípio falou de mim para ele, e que eu tinha “uma carinha boa”, na hora ele acreditou em mim e mandou me vender o fogão.  Voltei feliz pra casa pra contar a história minha e do Samuel pra Neuzinha.
 
- Sabe que no dia seguinte, era umas 11,30 horas parou uma camionete na porta de minha casa e o fogãozão tava até brilhando lá em cima.  O cobertor já tinha trazido no braço.
 
- Brasilino, mas o mais importante foi quando o motorista da camionete me entregou um envelope com uma carta que dizia: “Caro Jaime, fiquei feliz por você ter escolhido a Casas Bahia para comprar o fogão para dona Neuzinha, espero que façam uso dele por muito tempo e que muitas comidinhas gostosas, bolos de aniversários e doces para festas sejam nele feitos”.
 
Pude perceber que neste momento da narrativa que Jaime ficara emocionado e com os olhos marejados, em gratidão ao crédito que lhe fora dado, e ao carinho da entrega da carta assinada pelo próprio Samuel Klein.
  
- Eu paguei direitinho todas as prestações que o Samuel havia feito para mim.
 
Novamente se percebia que Jaime falava de Samuel Klein como fossem amigos pessoais e convivência no dia a dia.
 
Sabe Brasilino, disse-me Jaime:
 
- Novamente precisei comprar mais algumas coisinhas e voltei na Casas Bahia e ali encontrei novamente seu Alípio, que ao me ver chegando veio ao meu encontro e perguntou:
 
- Seu Jaime, o que o senhor está precisando agora para levar para dona Neuzinha ?
 
- Sabe Brasilino que fiquei com um nó na garganta pela atenção que seu Alípio me dava, especialmente por se lembrar do nome de minha mulher, mesmo depois de mais de 18 meses ?
 
- Aí falei pro Alípio que precisava trocar minha geladeira, comprar uns pratos e uns cobertozinhos pras  crianças, no que Alípio prontamente disse:

- Jaime, sente-se um pouco ali que vou fazer uma ligação para seu Samuel dizendo que o senhor pagou direitinho suas prestações e que está querendo comprar novamente.
 
Alípio se afastou do local e quando voltou disse:
 
- Seu Jaime novamente o senhor Samuel disse que é para vender o que o senhor quiser e também me incumbiu de entregar o que o senhor comprar até amanhã no final da tarde, e eu prometi que vou fazer isto.
 
Jaime se sentiu protegido e de plena confiança do senhor Samuel Klein, e satisfeito pelo carinho que dele recebe, mas reafirma ao vendedor Alípio.
 
- Seu Alípio pode dizer pro seu Samuel que mais uma vez vou pagar direitinho as prestações que fiz, pois se ele é legal comigo também devo ser legal com ele, e vou ser sim.
 
E sabe Brasilino, que nas festas de Natal e final de ano, eu recebo cartão de boas festas do meu amigo Samuel Klein.  E olha já se passaram mais de 30 anos desta relação e até hoje sou bem recebido e tratado na Casas Bahia.  E sabe que o Alípio ainda trabalha lá e é hoje o maioral, gerentão que manda em tudo naquela loja.
 
Eu fiquei sabendo que  seu Samuel Klein escreveu um livro da vida dele chamado “Samuel Klein e Casas Bahia – Uma trajetória de sucesso”, e na semana que vem, quando for pagar a última prestação da última compra que fiz na Casas Bahia, vou pedir pro Alípio ver se arruma um livro desse pra mim, quero guardar de lembrança do meu Amigo Samuel.
 
- Brasilino agora tô até pensando se quando voltar lá na Casas Bahia se o novo dono vai continuar acreditando em mim e me vendendo tudo que eu precisar, como o seu Samuel sempre fez !
 
Brasilino confesso a você:
 
- Estou muito triste neste momento com esta informação sobre o seu Samuel Klein, e se pudesse iria lá na cidade dele, que parece que é São Caetano do Sul, pra me despedir de meu Amigo, mas como não sei nem passar nem de Eugênio de Melo, fico por aqui mesmo, triste, e mais a noitinha vou fazer uma oração pra ele.
 
Disse Jaime: Um abraço meu Amigo Samuel Klein.
Brasilino Neto
Enviado por Brasilino Neto em 21/11/2014
Reeditado em 21/11/2014
Código do texto: T5043693
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