Feliz carnaval, Juvenal

Meu amigo é um sujeito simples -

desses que não existem mais,

não usa whatssapp

nem smartphone - nem nada de novo.

Inda escreve em maquina de escrever

da marca Hermes Baby.

E sua televisão

é uma velha Zenith cheia de fantasmas.

Mora num local modesto

e fala uma linguagem bonita do povo.

E acreditem!

ninguém me contou:

construiu sua casa

com suas próprias mãos,

tijolo a tijolo,

pedra sobre pedra.

As paredes de sua morada

estão impregnadas com seu cheiro, sangue e suor.

Inda cola selos nas cartas

e as deposita na caixa dos correios.

E fica dias

esperando uma resposta.

Não tem celular

e seu telefone é fixo

daquele preto

e pregado na parede.

Inda escuta suas canções

em elepês de vinil

e os embala naquelas capas

grandes e coloridas.

E ainda explica:

" ... gosto de admirar as fotos de meus ídolos"

E guarda lembranças dos amigos

num cantinho sagrado de seu lar.

E afirma:

" ... não jogo fora o que me foi dado com tanto amor"

Inda guarda dinheiro embaixo do colchão,

não usa cheque ou cartão,

compra tudo à vista,

evita dívidas, prestação.

Nunca o vi triste,

está sempre alegre, otimista.

E quando me vê pra baixo

sempre fala: " ... levanta a cabeça, João Batista"

E sua palavra dispensa o cartório -

para ter autenticidade reconhecida.

Ainda é do tempo antigo

em que fio de bigode era igual assinatura.

Têm sonhos também, é claro,

mas mantém os pés presos ao chão -

e é realista até demais:

" ... não devo alimentar falsas ilusões."

Reza antes das refeições,

é religioso,

agradece a Deus

pela saúde, pela família e pelo pão.

Seu coração é rico,

milionário mesmo

e acolhe todos sem distinção,

ricos, pobres e remediados.

" ... somos todos irmãos,

filhos do mesmo Pai"

E seu abraço, acreditem

é do tamanho do mundo

e acalma

o sofrer mais profundo.

E sua alma

é límpida e transparente

como um lago azul.

Sim, eu tenho um amigo,

que é um irmão espiritual.

Feliz carnaval,

Juvenal!