A vontade de escrever (continuação – 6.ª e 7.ª parte)

Continuei a escrever aquela história incrível que minha mãe contava...

Caminhei os poucos metros que separavam minha casa com a casa de minha mãe, estava ansioso, pensava na idade avançada desta incrível batalhadora, lúcida apesar de ter mais de noventa anos (naquele ano, 1994, quando ainda vivia) estava ávida pra contar a sua história, fazendo isso ela extravasava o que ainda estava dentro de seu ser, querer lutar, continuar sua catequese, sim, porque falar das coisas divinas creio ser um tipo de catequese.

Quando ia até a casa de minha mãe, procurava meditar o quanto era necessário aproveitar estes momentos em ouvir e escrever as experiências vividas por ela. Não conseguia brecar minha ansiedade, porque tinha quase certeza que deixaria de registrar muitas coisas.

Nestes poucos minutos que faltavam para minha entrevista, quer dizer, um ouvir suas palavras pra continuar a escrever, ia pensando quando eu antes de casar, no dia em que cheguei em casa falei:

--- Mãe, estou namorando e desta vez é mesmo pra casar. Ela me disse:

--- Que bom, meu filho!

--- Só que ela é crente, evangélica

--- Ah! Mas...

Depois do mas, eu pensei: vou mesmo casar e acho que vai ser uma guerra das duas, imagine, uma católica como muitos diziam: radical e a outra evangélica convicta.

Mas... felizmente que sempre temos um mas, eu estava redondamente enganado, minha esposa e minha mãe foram como se fosse mãe e filha. A convivência das duas foi incrível!!! Até mesmo na liderança, na franqueza eram semelhantes. Realmente o relacionamento das duas foi muito bom. Momentos bonitos, emocionantes que pretendo relatar ainda no decorrer desta história.

Nossa! Os pouquíssimos minutos passaram e cheguei na varanda da casa de minha mãe e começamos a conversar:

--- Mãe, que aconteceu quando o homem que a senhora queria converter falou as palavras santas de São Francisco de Assis?

--- Acho que você falou converter com ar de zombaria!

--- Rss...rs... Não, mãe, zombar de umas de suas histórias mais belas e misteriosas?

Depois eu (minha mãe continua) via que alguma coisa boa estava surgindo. O homem começou a falar:

--- Dona Maria, eu depois de raciocinar muito estou reconhecendo o bem que a senhora está fazendo a mim e o mais importante a toda minha família. A senhora achou que eu não gostasse de minha esposa e meus filhos não é? Pois eu gosto muito deles, só que houve brigas feias e acho que não tem mais volta.

--- Sr............... fico feliz de saber que no senhor existe ainda esta coisa maravilhosa que é o amor. Sabe que Deus é amor, Jesus pregou o amor e disse que não existe mandamento maior do que aquele que fala sobre o amor?

Há! Dona Maria, eu até começo a ficar um pouco aliviado em pensar que Deus existe. Já pensou eu morrer e acordar mesmo se for para ver na minha frente o barbudo São Pedro.

--- Se vai acordar e ver São Pedro eu não sei. Mas que Deus existe ele existe! Mas tem muita coisa que o senhor pode fazer aqui entre os mortais. É confessar os teus pecados, isto inclui em perdoar os que te fizeram mal e pedir perdão a todos que ofendestes.

--- A senhora está dizendo que devo confessar com um padre?

--- Segundo as minhas convicções religiosas, sim, o padre em algumas vezes deve atender uma confissão não para ele perdoar os pecados, mas sim, Deus é que tem o poder de perdoar-nos. O padre no seu caso deve te atender e ser um ombro amigo para ouvi-lo, tentar te livrar das impurezas. Não me ofendo se outros seguidores de outras religiões entendam diferentes de mim, nossa vida aqui neste mundo é um mistério e volto a crer que o verdadeiro mistério insondável é o nosso Deus todo poderoso.

Depois destas palavras, acho que filosóficas ou teológicas de minha mãe, eu tento as minhas:

--- Mãe, na minha opinião a confissão deveria ser um diálogo, uma conversa especial com o padre, nada formalidades por exemplo, eu me confesso... Faz tantos anos que fiz minha última confissão, tal... tal... Aí, minha querida mãe, as confissões aumentariam consideravelmente. Só que minha mãe jogou as minhas opiniões por terra dizendo:

--- Olha, não me venha com as suas modernidades, está bem? Mas deixe eu continuar o que o homem continuou me dizendo:

Continua... As histórias continuam(...)

A vontade de escrever (continuação – 7.ª parte)

A história continuava, aquelas narrações de minha mãe me estimulava,

queria saber se realmente aconteceria alguma coisa surpreendente,

sim, porque tudo que se refere ao sobrenatural mexe com o ser humano,

creio mesmo que quando temos a satisfação de escrever os mistérios nos fascina...

Então naquela época eu estava ali, pronto para continuar a escrever

Registrar tudo que me dizia aquela senhora, minha mãe Maria Vitória

ela continuava a me relatar, começando a repetir o que o homem descrente dizia:

Conversar com o padre? Vou confessar com a senhora, queria pelo menos a reconciliação com meus filhos, com a minha esposa eu sei que posso contar com seu perdão.

Minha mãe continua...

--- Depois desta revelação vi que naquele homem houve uma mudança radical, não estava ali aquela pessoa presunçosa, com alguns resquícios de maldade que estava destruindo sua família. Observei bem quando entrei naquela casa desde os primeiros dias, a filha de 12 anos completamente transtornada, olhava calada para o vazio, manifestação típica de uma intensa desilusão. Sua mãe, minha amiga me disse tristemente:

--- Ela está assim desde o dia que teve uma briga terrível com o seu pai. Meu marido no auge da maldade dizia que a amaldiçoava. Não só isso, meu filho com 19 anos numa tremenda briga, o pai aos palavrões o expulsa de casa. Eu no dever de mãe defensora impedi que ele saísse completamente sem rumo. Sinto sua imensa infelicidade nesta casa.

Aquele homem tão imponente (minha mãe continua detalhe por detalhe) e dono de conhecimentos invejáveis, mas durante um bom período de sua vida vangloriava em humilhar qualquer um que o debatia. Achava-se superior, via pela sua lógica a inexistência de Deus, ou qualquer coisa relacionada com o sobrenatural. Então com certeza as forças do mal atingia violentamente não só ele mas todos que o cercavam.

Entretanto, eu via naquele instante uma criatura se consumindo pelo remorso, caindo por terra todo seu saber. Sabia que seu viver neste mundo não duraria muito, isto ajudava a se acabrunhar consideravelmente.

Eu precisava fazer alguma coisa. De repente minha mente se abriu, alguma coisa me orientava e eu falei:

--- E se o senhor pedir perdão a toda sua família?

--- O quê! A senhora está louca?!... Não vou receber perdão nenhum, aliás eles é que me devem desculpas.

--- É assim que o senhor gosta deles? Eu louca? Tenha cuidado porque sua filha de apenas 12 anos é que poderá ficar completamente transtornada, seu filho de 19 anos se revoltar tanto e se tornar até mesmo um monstro humano. Sabe porque? Porque o pai os renegou, negou aquilo que é mais sagrado, aquilo que Jesus Cristo disse ser o mais importante e isso é o amor. Ah! Estava esquecendo, na sua esposa poderá secar este sentimento tão grande que tem pelo senhor.

Fiquei surpresa, porque notei que ele chorava tentava simular mas não dava pra esconder.

Esta é a minha mãe e sua oratória incrível. (falei alto mostrando todo meu orgulho)

Ela mostrando uma modéstia disfarçada diz:

--- Nem tanto! Mas o pior estava por vir.

--- O que de ruim iria acontecer, mãe.

--- Não é bem ruim, é que eu tinha que fazer com que um padre fosse atender aquele homem. Sabe, meu filho, é que se ele morresse sem uma assistência religiosa eu ficaria com um peso na consciência.

--- Ah! Arrumar um padre. Isto sempre foi moleza pra senhora. Sempre teve respeito por eles, teve admiração por eles, foi muito orientada por vários deles na sua missão catequética.

--- Mas acontece que o único padre que atendia as diversas confissões era Frei Alfredo, era bravo! Um dia eu briguei com ele.

--- A senhora brigou com um padre? Ah! Me conta esta.

--- Bem, você sabe que eu além de ser catequista, fazia os serviços sociais da paróquia e ainda trabalhava sem remuneração nos serviços da igreja. Um dia estava arrumando os paramentos na sacristia, e o Frei Alfredo me repreendeu exaltado porque estava alguma coisa no lugar errado. Eu fiquei nervosa e falei:

--- Olha, Frei, eu não trabalho aqui pelo senhor, eu trabalho é pra Deus! Ah! Meu filho eu ainda peco muito por este meu mal: não levar desaforo pra casa.

Eu respondi:

--- E eu não sei? Eu te conheço, dona Vitória!!!

--- Mas depois ficou tudo bem, Frei Alfredo até me pediu desculpas. A minha preocupação era se este padre fosse atender aquele homem e complicasse as coisas ainda mais .

Como eu confiava na providência divina, fui pedir ao Frei se ele poderia atender uma pobre alma, aliás alma que foi rebelde durante quase toda sua existência...

Continua... As histórias continuam(...)