homenagem à Dona Maria, minha sogra
Um texto em homenagem à Dona Maria, minha sogra que está completando 82 anos hoje.
A sabedoria da minha sogra
Todos cantam sua sogra
Também vou cantar a minha
Nesta prosa pouco castiça
A ela hei de fazer justiça
Quem sabe, uma rainha.
Dona Maria é uma típica descendente de imigrantes de primeira geração:
prática, prudente, discreta e bem humorada; Dona de uma sabedoria adquirida na vida dura do dia a dia daqueles tempos difíceis. Notei esta característica da Dona Maria desde os primeiros tempos em que comecei a namorar sua filha, minha esposa e mãe dos meus filhos.
Tempos depois, quando eu já estava cursando o MBA em Gestão Administrativa, e já ocupando o cargo de diretor em uma multinacional, eu costumava comparar os seus pontos de vista, e decisões acerca da família, problemas da administração doméstica e outras questões, com os modelos de gestão que eu estudava no curso ou que eram implementados na empresa em que eu trabalhava.
Em um daqueles feriados prolongados, os filhos, genros, as noras, netos e outros agregados se reuniram para o almoço. A cozinha parecia " A casa da Mãe Joana ". Dona Maria disse:
- Podem parar! Vamos dividir as tarefas e especificar o que cada um irá fazer.
- "Panela que muitos mexem, a comida sai sem sal"
- " Cachorro de muitos donos morre de fome."
- É preciso que todos se entendam!
Falei: Dona Maria, isso que a senhora está propondo em geral chama-se "Job description " e a integração de tudo em um projeto especifico, como é o caso aqui, é importante para se criar um time de alta performance.
Em outra ocasião a família conversava sobre o casamento de alguma parente, que não andava bem; Dona Maria disse: Ali a coisa já não vai bem faz tempo e tem coisas que não podem ser consertadas; Melhor seria desmanchar tudo, assim os dois poderiam começar vida nova.
Falei: Dona Maria isso que Senhora propõe o Michael Hammer chama de Reengenharia; Quebrar tudo e começar do zero. Ela perguntou: Quem é este Hammer?
Falei, deixa pra lá.
No seu pequeno quintal ela plantava: mandioca, goiaba, acerola e morango;
Muitas vezes se perguntava por que alguns vizinhos com quintais da mesma dimensão conseguiam que suas plantações produzissem mais. Ela dizia: --Preciso conversar com eles e saber o que fazem e como fazem.
Falei: -- Dona Maria isso que a Senhora quer fazer,chama-se "Benchmarcking" e quando vocês trocam experiências entre si, isso chama-se "Sharing best practices"
Em outra ocasião, lá pela década de setenta, comentei com ela sobre o que os japoneses faziam com o lixo.
Disse: -- No Japão, as donas de casa separam os vidros, as latas, papéis e restos de comidas, colocando em caixas separadas para que sejam reaproveitados;
Ela me chamou para ir com ela no quintal e me mostrou que seu lixo era também separado. Disse-me: -- Olha aqui, estes restos de comida vão para os porcos do Seu Aurélio Garla, o vizinho;
Estas garrafas serão recolhidas pelo fulano que passa aqui com sua carrocinha; Parte do lixo orgânico ela enterrava para fazer adubo.
Falei: --Parabéns Dona Maria, a senhora está à frente da maioria da população do nosso país.
Ela falou: -- Na roça, nós sempre fazíamos isso, nunca se desperdiçava nada. Diziam que era pecado desperdiçar.
Ela é assim mesmo, no dia a dia em sua casa tudo é valorizado, não se desperdiça nada.
Interessante é o seu modelo mental. Não é por pão durismo, ou por ser pecado, é respeito aos recursos. É a experiência dos tempos difíceis.
Ela me disse um dia: -- Tal coisa tem que ser feita, e de tal forma, porque é o correto e não somente por que precisa-se economizar.
Falei, Dona Maria, a senhora falou a mesma coisa que o Peter Drucker escreveu,
-- O que foi que ele escreveu? Perguntou ela.
Ele escreveu: Tudo que vai ser feito, merece ser bem feito.
Peter, o quê? Drucker. Peter Drucker, um sábio da administração Dona Maria;
Acho que ele iria gostar de conhecer a senhora.
Na empresa em que eu trabalhava, nas reuniões com meu time e até com a diretoria, quando a coisa esquentava, eu costumava brincar, dizendo: --Vou contar como minha sogra resolveria este problema.
Dona Maria ficou conhecida a tal ponto que quando demorávamos para encontrar uma solução ou tomar uma decisão, alguém dizia:
Pessoal, vamos ter que chamar a sogra do Grácio.
Certa vez, contei sobre a Dona Maria para o pessoal do curso, lá na FEA/FIA, e o coordenador do curso pensou um pouco e disse-me: -- Caramba! Sua sogra poderia criar um MBA sobre Gestão em Santa Rita.
E por que não? Perguntei em voz alta.
Sorrimos juntos.