HERÓIS DAS SOMBRAS

Caboclos da terra, sofridos,

que bravamente resistem,

ao jugo e à força misteriosa

da imensa e bela floresta

que impassível,

a dura sobrevivência assiste,

de todos que vivem,

sob sua sombra funesta,

Heróis que não se curvam

às intempéries da natureza,

ainda que a seus pés se escondam,

fartura e riqueza,

Sem recursos ou armas

que equilibrem a batalha,

nos malefícios das endemias

e na extrema pobreza.

O sol intenso a queimar-lhes

as frontes durante o dia,

e os insetos, mutilando-os

já cansados, à noite.

Como se não lhes bastassem

esse injusto e terrível açoite,

lhes podam o direito

de explorar a mata ...

Que de todo, por ser sua,

deveria o seu uso

inegavelmente ser,

legitimamente aceito,

por insensíveis governantes que

lhes tolhem, esses indiferentes

políticos, por nós e também,

“de per si”, escolhidos e eleitos.

Caboclos que mesmo sendo heróis,

definham de inanição,

com as entranhas corroídas,

por crônicas verminoses,

E outras tantas e tantas

doenças tropicais,

sem dúvidas, por nossa culpa,

seus insensíveis algozes.

Nesse “Paraíso Ecológico”

que a todos encantam,

só lhes é permitido “ viver” a natureza,

nas sinfonias dos pássaros ...

no puro ar que respiram,

no belo firmamento que contemplam,

mas não lhes satisfazem o sustento,

essa inigualável beleza!

Caboclos que pelos urros

das onças são embalados ,

em suas frágeis e toscas cabanas

e que a noite acordam,

na escuridão da floresta,

o sono entrecortado,

por ruidosos guaribas

como se em anárquicas festas,

Que assistem ao envelhecimento

d' árvores centenárias, sem poder abatê-las

e mesmo cultivando outras em seu manejo

não é permitida justa partilha obtê-la.

Que não lhes são legados

o direito a um destino concreto,

que não vivem a vida,

mas simplesmente vegetam ...

Sem esperanças, sem presente,

sem futuro e sem passado,

e que com seu suor e sangue,

inutilmente a terra regam..

Perdoe-nos pela omissão

de todos nós, pela indignidade

do irresponsável descaso,

pelo romantismo desenfreado,

Pelo egoísmo que nos cegam

e nos fazem, sem os notarmos,

viver cômoda e confortavelmente

ao vosso lado.

Homenagem ao caboclo amazonense.

Urias Sérgio
Enviado por Urias Sérgio em 18/05/2007
Código do texto: T492210