CASCALHO

Pele de ébano, e bom coração

silhueta redonda , la vai o Cascalho

mais um ente querido a anunciar.

como sempre alisando o pansão.

Eu aguçava os ouvidos a escutá-lo

para saber quem estava a nos deixar.

A voz grave do homem dizia

o nome da pessoa que partia,

e o cascalho, nem sempre se permitia

sentir a dor da saudade que devia,

pois que o cidadão anunciado conhecia.

Anunciava e apenas, seu dever cumpria.

Sempre se via alguém a procurar

preparado com uma fita a tiracolo

para o Cascalho era trabalho,

para muitos vontade de pedir colo.

Pois nessas horas a dor não tem consolo

e se chora como se ouvisse um ralho.

Cascalho não tinha escritório.

Era o seu Fusca e depois a Brasília.

vinha sempre sorrindo pra mim.

Antonio Carlos era seu nome próprio,

mas assim ninguém o conhecia

Mas de Cascalho (dinheiro), sim.

Comendo cajá, passou mal.

Veio notícias de mil bocas:

– O Cascalho teve um enfarto!

– Santo Deus que coisa louca!

– Quem anuncia o Cascalho

Seu Antônio ou de boca em boca?

Partiu Cascalho para o andar de cima

Acho que nunca o de baixo.

deixou pra outro sua sina

de anunciar as tristes partidas

com a perfeição quase exata

despachando-os para outras vidas.

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 11/08/2014
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