CASCALHO
Pele de ébano, e bom coração
silhueta redonda , la vai o Cascalho
mais um ente querido a anunciar.
como sempre alisando o pansão.
Eu aguçava os ouvidos a escutá-lo
para saber quem estava a nos deixar.
A voz grave do homem dizia
o nome da pessoa que partia,
e o cascalho, nem sempre se permitia
sentir a dor da saudade que devia,
pois que o cidadão anunciado conhecia.
Anunciava e apenas, seu dever cumpria.
Sempre se via alguém a procurar
preparado com uma fita a tiracolo
para o Cascalho era trabalho,
para muitos vontade de pedir colo.
Pois nessas horas a dor não tem consolo
e se chora como se ouvisse um ralho.
Cascalho não tinha escritório.
Era o seu Fusca e depois a Brasília.
vinha sempre sorrindo pra mim.
Antonio Carlos era seu nome próprio,
mas assim ninguém o conhecia
Mas de Cascalho (dinheiro), sim.
Comendo cajá, passou mal.
Veio notícias de mil bocas:
– O Cascalho teve um enfarto!
– Santo Deus que coisa louca!
– Quem anuncia o Cascalho
Seu Antônio ou de boca em boca?
Partiu Cascalho para o andar de cima
Acho que nunca o de baixo.
deixou pra outro sua sina
de anunciar as tristes partidas
com a perfeição quase exata
despachando-os para outras vidas.