Humanizando a função do Pai
                                                  Águida Hettwer
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       Nas famílias da contemporaneidade a presença masculina exercendo a função paterna configurou-se em queda significativa, não raro ver mulheres se desdobrando em mil funções inclusive a posicionar-se no papel de pai. A crítica se faz necessário não como ataque, mas como problematização, ética, estética, ecológica, política e social. Neste texto o que proponho é termos um olhar empático na figura masculina e principalmente na função paterna.
 
   O homem ao longo dos anos na sociedade tradicional passou radicalmente de uma posição primeiramente de poder absoluto e proteção sob âmbito familiar, para uma posição relativamente de segundo plano, um enfraquecimento do poder paterno. O mundo moderno exigente nos aliena a trabalhar cada vez mais, para custear as tantas lacunas que as nossas almas sentem, há um vazio imedível, onde as coisas se degradam, enferrujam, se quebram se tornam obsoletas e fora de moda em questão de meses.  As relações são voláteis e líquidas como já dizia Bauman, tudo escorre feito água pelos dedos.  E neste sentido o que se busca é resgatar  o pai, como função simbólica e real na estruturação sadia do psiquismo da criança.
 
     E recair o olhar para o pai como sujeito humano e humanizá-lo, como alguém que tem desejos, que por hora tem vontade de gozar toda a liberdade mundana, em pensamento, sonhos e fantasias chega a ser promiscuo, sem ser perverso por que não coloca em atos. A figura do pai não vista como antes, por que antes de ser pai é homem, com H maiúsculo. A figura do pai no viés humanizado é um homem que tem sentimentos e fragilidades das quais a sociedade desde a mais tenra infância recrimina e é deste pai que convido a problematizar.
 
      E pensando neste sentido, a saúde mental tanto de pais e filhos, esfacelando os corações de pedra que apontam sem piedade, sem desmistificar uma solução, o contato sincero, desprovido e afetivo de um pai em relação o seu filho. Providenciando equilíbrio nas relações, onde a figura paterna possa se expressar, sendo sim a representação da lei, da autoridade, do limite, no entanto, sendo um pai que acolhe, conversa, não dá conselhos e sim exemplos firmes de vida e justiça.
 
     Um ser carinhoso e sensível as necessidades dos filhos, um pai humanizado promovedor de mudanças, mesmo não vivendo no mesmo teto com sua prole. O exercício da função paterna pressupõe muito além da presença do pai dentro de casa, é o jeito como se posiciona frente uma questão, é a “pegada” onde a criança se sente amada, protegida, afagada, reivindicada.  A criança não tem a alma contaminada como os adultos, e elas são sensíveis ao trato, enxergam além daquilo que é visto e dito.
 
          É na caminhada do pai que os filhos se espelham, pisam muitas vezes sem olhar para os lados, depositam na figura do pai seus medos, pois crêem que o herói nada teme. Tomam seu sobrenome como herança honrosa, traços de inconfundível semelhança que lhe confere identidade, legado deixado, um patrimônio  de poder de chamá-lo de Pai. O amor de pai liberta para que a criança interior cresça e se desenvolva sadiamente e o ciclo continue.
 
 
      A criança necessitada de ser encantada por aquele que se diz seu pai. Pois ela o tem como herói num pedestal e os heróis, salvam e protegem os mocinhos. São papeis possíveis de ser exercidos no aqui e agora, basta o pai se desprender, desatar os nós que o impedem de ser feliz e fazer feliz um pedaço de si que está ai de braços abertos para ser amado e devolver muito mais amor. E é nesta troca de amor que se consolida uma relação sadia entre pais e filhos que perdura para todo sempre.
 
                                         09/08/2014