ROMARIA A BOM JESUS DE PIRAPORA

Amigos Recantistas, hoje, seis de agosto é dia do Bom Jesus. Em muitas cidades do país que tem esse nome BOM JESUS é feriado, dia de romarias, de missas especiais, bênçãos, procissões, pedidos e agradecimentos. Comigo não podia ser diferente. Recebi muitas graças do Senhor Bom Jesus de Pirapora, hoje município de Pirapora do Bom Jesus. Ele está lá como o vi pela primeira vez quando tinha sete anos de idade. Eu tinha dezessete anos quando aconteceu o caso narrado abaixo.

Em 1959 fiz uma promessa a Bom Jesus de Pirapora. Se fosse atendido, eu iria a pé ao santuário que dista cerca de 50 quilômetros do bairro do Butantã onde eu morava. A graça foi alcançada e contei a alguns amigos do colégio onde estudava. E numa tarde de um sábado saímos às 18:00 horas do início da estrada velha de Itu, hoje av. Corifeu de Azevedo Marques em número de quatro pessoas. Quando passamos pelo Rio Pequeno mais dois colegas se juntaram a nós e então estava completa a romaria com seis pessoas.

Fizemos a primeira parada para tomar uma caracu em Osasco num boteco da Av. dos Autonomistas e segunda parada em Barueri numa pastelaria onde lanchamos e mais caracu para repor as energias. A terceira parada foi em Santana do Parnaíba em restaurante que ficava aberto a noite inteira, pois no andar de cima do mesmo funcionava um salão de festas. Foi uma parada mais demorada, porque jantamos arroz, bife a cavalo e caracu (cerveja preta que hoje não é mais a mesma, naquele tempo era bem forte e tonificante).

Acredito que devia estar por volta das duas horas da madrugada, quando reiniciamos a caminhada. A noite era uma das mais lindas que se podia esperar. Céu com lua cheia pontilhado de brilhantes esferas, clima ameno e bastante visibilidade, não fora nem preciso acender a lanterna, único utensílio que portávamos. Já tínhamos caminhado mais de 40 quilômetros e ninguém mostrava sinal de cansaço. Devia estar por volta de três horas da madrugada quando uma brisa fria começou a soprar, uma tênue garoa a cair e a visibilidade diminuir. Então em nossa frente, bem no meio da pista, surgiu um vulto branco, sentado como um cachorro, mas era do tamanho de um cavalo.

- O que é isso? Alguém perguntou.

- Aponte a lanterna.

Assim que a lanterna foi apontada, o vulto saltou da metade da pista para o matagal sem fazer barulho e desapareceu. Atônitos, paramos. Apontamos a lanterna para o mato e estava apagada. A noite linda e silenciosa até então, transformou-se numa noite de horror. A tênue brisa se transformou num vendaval que formava ondas no rio Tietê que naquele trecho corre ao lado da pista. A garoa em chuva. O céu desapareceu. O silêncio foi quebrado pelos animais que emitiam seus sons característicos de cada espécie.

O pavor tomara conta de nós, fizemos uma roda com dois no centro tentando consertar a lanterna sem nenhum sucesso. Ninguém confiava em ninguém e girávamos no sentido anti-horário. O medo maior era o lado do matagal de onde adentrara o vulto.

- Eu vou voltar para Parnaíba e esperar o dia clarear para continuar a viagem pela manhã, disse um que teve a adesão de mais dois.

- Se alguém topar, prossigo, disse eu, pois se tiver que acontecer alguma coisa ruim, tanto faz voltar como prosseguir, além de que, se já percorremos uns cinco quilômetros, vai aumentar em dez a nossa caminhada. O argumento valeu e todos nós resolvemos prosseguir após muita hesitação daqueles que queriam voltar.

Estávamos com frio e nem uma cachaça ou conhaque tínhamos. O tempo que ficamos parados, nos esfriou e começamos a sentir dores nas pernas. Creio que ficamos meia hora naquele clima de terror. Já devia estar entre três meia e quatro horas da manhã. O que mais apavorava era o barulho que vinha do mato. Com dores prosseguimos. Acredito que caminhamos uns cem metros e de repente o vulto branco novamente surge diante de nós.

- Chegou nossa hora, Deus, protegei-nos! Disse eu.

O vulto branco começou a tomar forma e para a nossa alegria era uma capela. Fizemos o sinal da cruz e rezamos um Pai Nosso uníssonante.

Inacreditavelmente, parou o vendaval, parou a chuva, pararam as vozes dos animais e o céu voltou a ficar nítido e ninguém mais sentiu dores. Todos, fomos tomados de emoção. Deus estava (e sempre está) conosco. Aquela fora uma prova de fé. Caminhamos mais umas duas horas e, quando clareou o dia, divisamos a lateral da igreja de Bom Jesus de Pirapora no fim de uma ladeira à nossa frente. Os sinos começaram a repicar. Que som maravilhoso!

Eram seis horas da manhã, estavam abrindo a igreja. Fomos os primeiros peregrinos a entrar e beijar o Santo naquele domingo. Ocupamos o banco da primeira fila, mas não assistimos à missa, porque, cansados, dormimos o merecido sono. Nossas roupas secaram durante a caminhada.

Depois desse dia participei de mais seis romarias, o grupo foi aumentando. Colegas do colégio foram se juntando a nós e anualmente fazíamos romarias.

Nas seis romarias seguintes que participei, sempre acendi uma vela naquela capelinha e sempre que ia a Pirapora do Bom Jesus (de carro), repetia o gesto. Hoje não convém parar em lugar ermo.

Alguns céticos poderão dizer que aquela aparição seja fruto de um fenômeno que a Física poderia explicar, mas, os demais acontecimentos como o vendaval, a chuva, as “vozes” dos bichos e a volta da normalidade após a oração, permanecem ainda um grande mistério que só fazem aumentar a minha fé. Obrigado Senhor Bom Jesus de Pirapora!!! Vivas ao Senhor!!!

SANTO BRONZATO em 06 de agosto de 2.014