Benedito Carneiro (Coletânia)

Amo você poeta,meu amigo,meu tio.

1

"De nada adiantaram a distância, o sono, o tempo carrancudo. Aconteceu mesmo. Um encontro indizível. Parece que o humano divinizou-se através do riso, dos olhos vivos, das palavras ternas, das reminiscências, da entrega ao doce ócio do papinho sem pautas. A despedida não desfez o tempo cheio de carrancas. Dane-se ele, pois cada um soube sorver a doçura do junto estar no silêncio do coração.

2

Quando a gente passa a outra pessoa, na generosa entrega, esperança e confiança, solidariedade, amizade, amor na alegria do compartilhar e não escuta um eco sequer, um gesto tão simples de saber ser escutado, mesmo não desejando recompensa... Ah, então vemos surgir a saudade e a solidão de mãos dadas, vestidas de tristeza a passear em nosso salão antes adornado pelo calor da acolhida. Rodam as duas por longos momentos, rodam e lentamente deixam o recinto num aceno que parece contraditório querendo dizer: É por pouco tempo, companheiro, ou ainda “foi o tempo que dedicou à sua flor que o fez sentir assim”(adaptado de O Pequeno Príncipe). Será por quanto tempo mesmo? Urge o encontro pois entardece em nossa vida e a noite se avizinha.

3

E aí surge no meio do caminho (meio ou fim?) um sentir-se indo embora, viajando para o infinito sem retorno. A paz definitiva? A nossa finitude torna-nos tão frágeis, aponta-nos caminhos inacabados, põe em nossa cara as oportunidades de encontros bem ou mal sucedidos. Mostra-nos acertos e deficiências no relacionamento eu-tu. Faz-nos ver de um lado o abrir-se sem máscara, sem medo, sem preconceito, na extrema generosidade e de outro a barreira do incompreensível trancar-se quando provocado a se rever, a se comunicar, a ouvir, a entender o outro lado. É aí também que sentimos uma angústia desmedida, pois ainda que mantenhamos sempre a esperança do encontro, este foge como as estrelas quando a aurora de um novo ressurgir vem rompendo as trevas da noite. E como gostaríamos que antes da definitiva partida a paz voltasse, a ternura fosse reativada, a palavra fosse novamente retomada na alegria de um papear sem fim, retrato talvez daquele conversar prazeroso que deve reinar no depois daqui.

4

Os sonhos e os projetos da juventude... Eles se foram ora ceifados abruptamente ora deixados ao longo da estrada por não apresentarem mais algum fundamento existencial. De quando em vez, o vento se encarrega de levantar a poeira e com ela retornam numa roupagem tão nova quanto fugaz, pois passado e presente são modelados nestes momentos como realidade e fantasia, mistos de esperança e saudade, anseios de um ressurgir e certeza de sua finitude ao término do caminho. É a condição humana em toda sua beleza e agrura que se manifesta de forma misteriosa e singela...

5

Ah, não fossem os pedaços de felicidade e alegria que recolhemos ao longo da estrada, as amarguras e decepções aninhar-se-iam de vez no coração da gente!

6

Por quê? Tão triste o distanciamento de quem tanto ama. Há razões talvez nem tanto razoáveis para que aconteça. O coração se encolhe com receio de um desenlace inesperado e o espírito se enrola em ondas de conjeturas que lançam cada vez mais incertezas sobre o amanhã. Parece não bastar mais a fé e a esperança, embora ainda persista o amor em viver.

7

Àqueles que ainda permanecem em minha memória de um jeito alegre, feliz, renovador e lotado de esperança, vai indo um bom dia de paz!

8

Há um silêncio em minh'alma, inacreditável e imprevisível, se pela origem, se pela forma como se alojou em mim, se pelos trancos inesperados de um caminhar longo. Todavia, um silêncio que me empobrece quando tolhe a ganãncia e a ânsia de compartilhar amor, ternura e zelo.

Neste longo silêncio, imagens e fatos misturam-se, recordações e caminhos surgem lá do fundo, tudo numa interrogação surda, de uma vida que buscou o amor, porém ele se perdeu também nas brumas do ontem sem encontrar explicações.

Benedito Carneiro

Ah, não poderia deixar de fazer aos que se apresentaram e mesmo aos que se ausentaram por algum motivo: meu agradecimento. Nesse novo mundo, sentidos e valores ou se perderam ou transmudaram. Entretanto, essa primavera trouxe-me o encanto e a certeza de que ao longo do caminho, pode-se encontrar ainda tesouros que cada um vai espargindo conforme sopra o vento do acontecer: o amor e amizade. E essa primavera floresceu novamente ressurgindo em cores e sentimentos vivos. A vocês todos, sem exceção, vai uma primavera nova de encanto e estímulo, de esperança e fé, de coragem e amor, de todo meu coração. O Senhor do perto e do longe permaneça com cada um de vocês. Obrigado.

Benedito Carneiro
Enviado por xodózinha em 28/07/2014
Reeditado em 29/10/2014
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