Mães do Mundo
Mães do Mundo
=============ErdoBastos
Durante as décadas de 60 e 70, e entrando
pela de 80 do século passado, a noite da
ditadura assombrou a América Latina.
Sucederam-se em muitos países, quase todos,
aliás, governos militares, ditatoriais,
originados por golpes que derrubaram
presidentes eleitos democraticamente e
guindaram aos cargos generais golpistas.
Estes generais, fascínoras legitimados pela
força das armas, por serem ditadores e
disporem de amplos poderes sem possuírem
o necessário preparo político para lidar com
a máquina administrativa, perderam-se nos
meandros de um estado policialesco,
e não raro perderam o controle sobre os
aparatos policiais, muitos deles secretos e
com poder de vida e morte sobre seus
investigados. Eram as polícias políticas.
Para se manterem no poder, alegavam
quaisquer acusações contra quem deles
discordasse.
Prendiam arbitrariamente, seqüestravam
pessoas aleatoriamente, na calada das noites,
e muitas vezes, por abusarem na tortura e
temerem represálias se deixassem provas,
matavam estas pessoas, condenadas sem
nenhum julgamento, sequer dando-se ao
trabalho de comunicarem as respectivas
famlias, muito menos entregarem os corpos.
Eram os "DESAPARECIDOS".
E nosso continente se cobriu de luto,
enquanto os governos simplesmente negavam
saberem dos paradeiros destas pessoas, que
todos sabiam estarem sob suas garras.
Depositadas em úmidos e escuros porões,
como os da Escola de Marinha da Argentina.
O povo resistiu a isso de todas as maneiras
possíveis, criando entidades, se organizando
politicamente, se manifestanto, lutando a
mão armada em muitos casos, em todos os
países do continente.
Mas na Argentina, onde a força titânica e
brutal do braço armados da ditadura agiu
com tirania e brutalidade ímpares, surgiu
um movimento sui-gêneris.
No dia 13 de maio de 1977, reniram-se, diante
da Casa Rosada, o palácio presidencial
Argentino, um grupo de 14 mulheres.
Apenas 14.
Na Plaza de Mayo, em frente ao palácio e
portando cartazes com as fotos dos filhos
desaparecidos, elas iniciaram uma vigília
sem fim, que perdura até hoje.
A noite, acendiam velas e velavam assim seus
filhos desaparecidos, quase todos mortos e
sepultados em valas comuns e clandestinas.
E lá ficavam, num exemplo de força-pacífica,
numa manifestação sem nenhum cunho de
força física ou bélica, portando flores e
cartazes apenas.
Elas deram início ao fim deste estado de
coisas, revelando ao mundo as atrocidades
cometidas a mando dos generais de plantão,
mas sem jamais levantarem uma só das
mãos em sinal agressivo.
Apenas protestavam e pediam.
E de tanto serem vistas protestando, serviram
de exemplo.
E outras mães de filhos igualmente
desaparecidos, foram se juntando a elas, e
em pouco tempo, eram centenas, milhares.
E paravam o trânsito com passeatas.
Apanhavam sem reagir, das brutais polícias,
verdadeiras milicias de assassinos e covardes
bárbaros, que do alto de cavalos lhes batiam,
jogando mulheres indefesas ao solo com
golpes violentos de seus cassetetes,
causando-lhes ferimentos e em algumas delas,
a morte.
Mas elas não desistiam, e ao contrário,
pareciam a cada dia aumentar em número e
em grau de perseverança.
E em pouco tempo, eram centenas, depois
milhares.
Este movimento deu início ao fim das
ditaduras, contribuindo de maneira decisiva
para a criação de uma conciência popular
contrária a tais governos e seus atos.
E pouco a pouco, e uma a uma, estas
sanguinárias e vergonhosas ditaduras foram
caindo, até que todas se acabaram.
O General Jorge Videla as chamava de
as Loucas da Praça de Mayo.
Mas Las Madres de La Plaza de Mayo não
acabaram, continuam em luta.
Hoje, pela punição dos culpados.
Manifestam-se e vigiam, e perseguem estes
ratos e exigem suas punições, denunciando-
os a tribunais hoje em estado de direito
plenamente restaurado.
E fundaram movimentos sociais que hoje
fazem na Argentina amplo trabalho de
amparo social a necessitados, a crianças
órfãs e desvalidas.
Eram mães de desaparecidos.
Eram Mães da Praça de Mayo.
Hoje são Mães do Mundo.
Simbolicamente, entrego a estas Mães as
flores que trago no peito, e assim
homenageio neste dia a elas dedicado, todas
as mães do mundo, juntamente com a minha
e com as dos meus filhos.
Feliz dia das Mães.