Corações ligados para sempre
O Garoto sempre foi como qualquer outro garoto comum, tímido como qualquer outro garoto tímido, talvez até sem graça por não causar toda aquela barulheira tipicamente infantil. Solitário, mas nunca triste, seu mundo sempre foi muito satisfatório, sua imaginação nunca o deixou na mão, a alegria sempre foi visto em seu rosto e no brilho de seus olhos castanhos e levemente puxados. Filho único de uma família normal, constituído por ele e seus pais.
Como tudo na vida depende do referencial, a vida do Garoto segue esta mesma regra, sua felicidade será impactada ao ser incluído um novo membro nesta família. Ele mais do que todos sentiu a alegria máxima, deixando tudo o que ele já viveu mais colorida, sentiu como se aquela pequena solidão teria fim, solidão essa que ele conseguia apenas preencher com algumas poucas horas enquanto seus pais deixavam que ele brincasse com os poucos amigos que tinha, sentiu como se todo o seu mundo próprio que ele cunhou com sua imaginação finalmente poderia ser compartilhado, cresceria e ganharia mais vida.
A princípio o Garoto ficou receoso, era alguém novo, ele não sabia se tudo o que ele pensou se concretizaria, nunca havia visto um novo integrante chegar tão repentinamente em sua família, totalmente inesperado, pensava se o novo integrante iria gostar dele ou se realmente dividiria o mundo com ele.
Para felicidade do Garoto tudo que ele imaginou se concretizou, anos se passaram e a amizade foi construída e fortalecida, a diferença de 6 anos de idade a mais do Garoto nunca foi um empecilho, todos os dias ele brincavam e viviam construindo os mundos deles, suas vilas, suas terras, seus planetas e suas galaxias de fantasias se expandiam muito mais rápido do que o Universo.
Anos se passam e com eles a infância foi superada, a personalidade de ambos desenvolveram, muitos irmãos se separam após chegar na adolescência, mas não foi o caso deles, seus corações já estavam ligadas e conectadas por algo não-físico, algo que apenas formulas e teorias cientificas não são o bastante, não para os dois. Brigas ocorriam, nem tudo é fantasia e felicidades, mas sabiam que tudo faziam parte dessa vida que ambos ainda não conheciam bem. O tempo trouxe novos amigos para o Garoto, e se são amigos do Garoto também são amigos do Mais Novo. Os dias de felicidade perduraram por toda a difícil adolescência, marcada por algumas brigas entre os pais, que culminaram na separação do casal, porém os dois já não se sentiam sozinhos com a companhia um do outro quando surgiam qualquer tristeza, sabiam consolar um ao outro, mesmo sem dizer uma palavra, ambos sabiam o que deveria ser pergunta e o que haveriam como resposta, cada palavra era transmitido apenas pelo olhar.
A fase da adolescência também foi superado, o Garoto já estava na faculdade e com seu trabalho, era tudo mais difícil, a vida era realmente presenciada pelo Garoto, apenas se viam ao amanhecer e ao anoitecer, quase 16 horas sem se ver, mais as horas que estavam dormindo, interagiam por poucos minutos durante a semana, mas a amizade nunca se fragilizou, mesmo com o novo mundo do Garoto, responsabilidade, dificuldades, deveres, amores e incertezas. O coração nunca deixou eles longe, mesmo na distancia da fase adulta de ambos.
A vida foi resumida em amizade e alegria. Mas a vida não é sempre assim, seu lado meio amargo luta para emergir acima de todo o mar de alegrias. O pior aconteceu o Mais Novo caiu. A preocupação e o medo tomou conta do Garoto, nunca havia sentido esse tipo de preocupação. O Garoto e sua mãe levaram o Mais Novo para o hospital, uma bateria de exames foram realizados. Antes alguém tão forte, agora em uma mesa, fragilizado. O Garoto apesar de com boa saúde, sentia que seu coração havia se enfraquecido, medo tomou conta dele, medo da solidão, afinal, o que seria de sua vida, que sempre foi compartilhada, agora que seu mais fiel amigo estava em um hospital? Os exames do Mais Novo chegaram e junto com eles más notícias, o diagnóstico, inicio de um edema pulmonar resultante do tamanho do crescimento de seu coração. O Garoto sentiu seu próprio coração sendo esmagado, assim como seu melhor amigo possivelmente estava sentindo. Angustia, medo, solidão, vazio, era o que seu coração sentia. Coração, órgão tão frágil e ainda temos o costume de entupi-lo com todos os sentimentos que o tornam ainda mais frágil e vital.
O Universo de fantasia ainda não terminou, apenas se escureceu, as estrelas se ofuscaram, lutando para que não cheguem em sua entropia total, esperam seu fim inevitável com esperanças.
Este texto foi escrito em homenagem ao meu cão, melhor amigo que um simples Garoto poderia ter. Te amo Dog.
A3.