Grandíssimo Hélder
Grandíssimo Helder! O homem que a ditadura não calou
Helder Pessoa Câmara veio ao mundo no dia 7 de Fevereiro de 1909, foi o primeiro depois do décimo filho de um jornalista e uma professora no Ceará. Ainda tenro, com seus catorze anos já ingressara em palestras religiosas, oito anos depois tornou-se sacerdote católico. Aparentemente mais um devotado ao Cristianismo, e mesmo o sendo, não foi qualquer devoto, anos mais tarde Helder Câmara mostraria ao mundo que em águas pós-modernas ainda se encontravam pérolas.
Depois de inúmeros títulos, aos 43 anos de idade, no ano de 1952, Dom Helder foi ordenado como bispo, então como bispo do Rio de Janeiro, e doze anos após como de Recife e Olinda, a grande alma do sacerdote não mais se apequenou diante da Ditadura, e bradou em pleno jardim militarista, contra a desordem e desumanidade. Era nesse momento que inconscientemente Helder girava os holofotes da atenção das autoridades. Incontestavelmente o grito “Afasta de mim este cale-se (cálice)” de Chico Buarque nascia no peito daquele homem.
Não foram desmerecidas as quatro indicações do prêmio Nobel da paz, o que desmerecida pode ser considerada foi a usurpação pelos militaristas brasileiros que impediram a eleição de Dom Helder nas quatro indicações. O bispo de Recife e Olinda foi um verdadeiro apaziguador, quando não só com seus sermões, mas com seus atos, o tal combateu a pobreza, e o abuso de autoridade por parte do exército no Brasil. A ditadura não o calava. Nem o assassínio de seu bispo auxiliar, ou as duas alvejadas de tiros em sua casa em plena madrugada foram barreiras dignas de embate. O governo TENTOU sistematicamente calar o sacerdote, seus textos e seus provérbios não podiam ser mais publicados, a televisão não tinha o direito sequer de pronunciar seu nome. Porém a simpatia daquele que seria símbolo do combate à pobreza no Brasil já tinha aquentado os corações da massa brasileira, até o ego do papa tinha sido afagado. Prestes a alcançar, assim como Caetano Veloso, o exilamento das terras brasileiras, Helder Câmara fez o inimaginável, palestrando em Paris, o tal denunciou sem qualquer recalque de arrependimento, o mal feitio dos militares brasileiros e sua indiferença aos grandes males que alcançava o povo do país. Esse ato, mesmo que arriscado, o garantiu com uma majoritária posição no palco da ditadura, ele era nesse momento incalável.
Substancialmente, o homem do qual o mundo não merecia, de uma enorme singeleza explodiu bombas de conscientização à humanização, esculpiu mentes e almas, cortou com sua espada flamejante – sua boca, que jorrava rios de sabedoria – alguns fardos de egoísmo, e desastrosamente abalou os alicerces da ditadura. Infelizmente Elis Regina estava certa quando disse: “O brazil não conhece o Brasil”. Sim, o BraZil com Z – terra do pão e circo, terra da massa, terra que dá valor as mediocridades – não reconhece as preciosidades que a Vida entregou ao BraSil com S. E Dom Helder Câmara, com seus feitos e lições, é somente mais um dos grandes que aos poucos é esquecido.