ANTONIO C. ROCHA - 94 ANOS

ANTÔNIO CONCEIÇÃO ROCHA

"A sua posteridade será conhecida entre as nações, os seus descendentes, no meio dos povos; todos quantos os virem os reconhecerão como família bendita do Senhor." (Is 61.9)

Família é um núcleo de convivência, unido por laços afetivos, constituída por relações de amor... Em nome desse amor familiar, e a pedido do meu irmão Fernando Lobo, quero hoje homenagear um tio extraordinário. Glórias lhe darei, ainda em vida, pois foi em vida que ele dedicou seus dias guerreando em defesa da família e ajudando os que lhe são caros. Foi um incansável e determinado na busca da excelência, lutando com bravura e coragem, sem apear-se da ética. A vitória da sua família não aconteceu naturalmente com o tempo; careceu da sua parte, muito investimento, humildade e disposição para buscar...

Tive pouco convívio com o tio Antônio, infelizmente. Mas seus feitos vararam fronteiras e transformaram em história digna de ser contada. Quisera ser mais retórico e mais poeta, para elaborar um pouco sobre a vida do Mestre Antonio. Sua história não pode deixar de ser contada. Não podemos ser indiferentes ao eco de suas lembranças, como retirante baiano que buscou lugar ao Sol no Estado da Guanabara. “Nenhum povo; dizia Arnold Toibee, tem a consciência de seu destino e a certeza do seu valor se ignora seu passado”. Ao que eu apresento: “A eternidade da pedra não vale o sopro da existência transitória do homem”.

Em 1938, quando o escritor Graciliano Ramos escreveu o livro "Vidas Secas" retratando o Nordeste e a retirada dos sertanejos para outras regiões do país, mal sabia ele que o santestevense, Antonio Conceição Rocha, seria também coadjuvante dessa história. A aposta no Sudeste era a tônica do nordestino. A esperança em ter uma vida melhor, trouxe milhares deles, inclusive o tio Antônio.

Nordestino esquálido, negro baiano refugiado do seu rincão árido e sem vida, deixou a sua velha Santo Estevão, como diz, Caetano Veloso: “Caminhando contra o vento sem lenço sem documento”. Chegou à Capital da República, sem eira, sem beira, sem estudo e sem nada... Tinha conhecimento da realidade das suas dificuldades e consciência que a cidade grande cobra grande preço daquele que tem pouco a oferecer. Ensimesmado na dor, esquecido pela nação e entregue a própria sorte, ele lutou sozinho, sem ajuda nem guarida. Confiante, entretanto, que a Bahia lhe dera régua e compasso e já que não era culto, teria que ser sábio, mirar-se em exemplos de homens vencedores e fazer o seu trajeto marcado pela retidão moral e ética...

Padeço só em pensar o quanto meu tio ouviu por ser negro, nordestino e sem cultura. É utópico dizer-se desprovido de preconceito, quando sabemos que as palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos.

Para chegar ao destino, utilizou-se de animal, barco à remo, vapor, trem e pau-de-araras. Uma sofrida viagem de muitos dias... Como qualquer viageiro, não estava preparado para as surpresas da viagem ou dos percalços no itinerário. Decerto, muitas vezes, o desânimo lhe apossou, trazendo a incerteza e dificultando-lhe o discernimento. Mas, como filho de Pompílio, sertanejo corajoso e determinado, lutou e mostrou a que veio. “O êxito da vida não se mede pelo caminho que você conquistou, mas sim pelas dificuldades que superou no caminho”.

Certamente tudo que passou lhe ensinou a superar as dificuldades e a sorrir com alegria e felicidade por toda conquista. O passado não é o que passou; é o que ficou do passado... E o que ficou é que vemos: Um homem feliz, com dois filhos probos, netos e bisnetos bem encaminhados, certo do dever cumprido, consubstanciado na máxima de Paulo Apóstolo: “Combateu o bom combate, completou a carreira e manteve a sua fé”.

Com o tempo o Mestre Antonio foi vendo que o Rio era mais que uma Cidade de tijolo e telhas; tinha cores e sabores, calor e brisa; muito mais que noites estreladas, alvorada e sol poente... Rio de Janeiro é um lugar salpicado de passantes... Cidade onde ninguém é igual todo dia... É um todo orgânico que respira e tem coração. A Cidade é de ninguém e de todos também... Inclusive de Antonio Rocha.

O Rio de Janeiro encheu o coração do meu tio Antonio de alegria. Hoje, vejo, com nitidez, os motivos que o levou a nutrir grande amor por esta cidade encantadora que o acolheu. Rio, portanto, é o lugar que tio Antonio escolheu para morar, para constituir o seu lar, para educar seus filhos, para celebrar a amizade e para findar os seus dias. No Rio, tio Antonio construiu a sua identidade profissional e constrói a sua trajetória e sua biografia. Foi nessa Cidade que fez a sua morada. É na atmosfera da Tijuca que ele sente-se definitivamente em casa. Rio de janeiro, portanto, é o seu lugar. O lugar que ele escolheu para si, sem jamais esquecer a sua Bahia.

Um sorriso e um abraço sinceros falam melhor que qualquer “escrito”. Eu sei. Na impossibilidade de dar o meu abraçar, escrevo para felicitar esse tio magnânimo, que ao longo dos seus 94 anos, sempre pautou suas palavras com verdade, com percepção sutil do que é justo e um profundo respeito aos princípios. Sabe compartilhar razões e fundamentos; sabe harmonizar as palavras, os sentimentos e as ações.

Ainda haverá esperança para as gerações futuras de um Brasil do amanhã, desde quando se espelhem na visão e no comportamento do Mestre Antonio, modelo de cidadão. Os dias passam e os tempos mudam, e eu espero que mudem para melhor, desde quando, a juventude se paute no nobre exemplo de cidadão e de pai de família que foi, e é Antonio Conceição Rocha.

Que o Cristo Jesus cuide para que os seus dias sejam plenos de saúde e paz.

C/o carinho dos filhos de Alaíde e Antonio Lobo

Manoel Rocha Lobo
Enviado por Manoel Rocha Lobo em 19/03/2014
Reeditado em 17/12/2020
Código do texto: T4735955
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