Dia Internacional da Mulher.
Ser mulher está se tornando, penso eu, um pouco mais fácil. Hoje as mulheres tomaram consciência de que podem ocupar posições que antes eram privilégio dos homens e estes estão aprendendo a não olhar a mulher com o preconceito de antanho. São executivas, são mecânicas, motoristas, pilotos de aviões de carreira, margaridas (garis femininos), enfim, trabalhadoras que ajudam na provisão das necessidades do lar, antes restrita, quase sempre, ao homem.
Um segmento onde podemos verificar a evolução do tema é a música. Com efeito, apesar das excelentes composições, algumas causariam desconforto nos dias de hoje.
O Martinho da Vila, por exemplo, cantava, não sei se canta ainda, “você não passa de uma mulher”. No meio da canção ele mostra a coisificação da mulher descrevendo-a como uma refeição ao dizer “Um prato feitinho pra garfo e colher” e fecha a estrofe com o bordão “Você não passa de uma mulher (ah, mulher)”.
O grande Nelson Gonçalves, por sua vez, derrapou ao revelar a posição machista de que a mulher vivia em exclusivamente em função do companheiro.
Diz a música:
Levanta, levanta, nêga manhosa
Deixa de ser preguiçosa
Vai procurar o que fazer
Nêga, deixa de fita
Prepara a minha marmita
Levanta nêga, vai te virar
Deixei embaixo do rádio
Uma nota de cinquenta
Vai à feira, joga no bicho
E vê se te aguenta
Economiza, olha o dia de amanhã
Eu preciso do troco
Domingo tem jogo no Maracanã
Do bate bola eu sou um fã!
Germano Matias, além do machismo canta algo racista, inaceitável.
Minha nega na janela
Diz que está tirando linha
Êta nega tu é feia
Que parece macaquinha
Olhei pra ela e disse
Vai já pra cozinha
Dei um murro nela
E joguei ela dentro da pia
Quem foi que disse
Que essa nega não cabia?
Essa música, já justificaria além do reconhecimento dos crimes de racismo e injúria, a aplicação Lei Maria da Penha pois a mulher é agredida com um murro que a coloca dentro da pia e com o desabafo do companheiro: Quem foi que disse que essa nega não cabia?
Outro disparate é a mulher ideal, revelada pelo cancioneiro popular como aquela que passa fome ao lado do companheiro e acha bonito não ter o que comer. É uma mulher coformada e que nada faz para mudar essa situação. A mulher que conhecemos hoje pode suportar situações difíceis mas nunca vai achar bonito. Ela vai correr atrás e se preciso vai vender salgadinhos para ajudar na renda familiar. É uma guerreira.
Felizmente essas músicas não representam o romantismo de milhares de canções que realçam o valor da mulher por um ângulo bem mais digno.
Não há como falar de mulher sem lembrar de nossas mães.
Teixeirinha enaltece sua mãe, morta num incêndio, em 1936:
Passei fome passei frio
Por este mundo perdido
Quando mamãe era viva
Me disse filho querido
Pra não roubar, não matar
Não ferir, não ser ferido
Descanse em paz minha mãe
Eu cumprirei o seu pedido
O que me resta na mente
Minha mãezinha é teu vulto
Recebas uma oração
Desse filho que é seu fruto
Que dentro do peito traz
Este sentimento oculto
Desde nove anos tenho
O meu coração de luto...
Sem tragédia, Lamartine Babo escreveu essa linda canção, imortalizada na voz de Francisco Alves, depois gravada por Orlando Silva, Altemar Dutra e outros, sem perder seu encanto:
Eu sonhei . . .que tu estavas tão linda . . .
Numa festa de raro esplendor,
Teu vestido de baile . . . lembro ainda:
Era branco, todo branco, meu amor ! . . .
A orquestra tocou umas valsas dolentes,
Tomei-te aos braços, fomos dançando, ambos silentes . .
E os pares que rodeavam entre nós,
Diziam coisas, trocavam juras a meia voz . . .
Violinos enchiam o ar de emoções
E de desejos uma centena de corações . . .
P'ra despertar teu ciúme, tentei flertar alguém,
Mas tu não flertaste ninguém ! . . .
Olhavas só para mim,
Vitórias de amor cantei,
Mas foi tudo um sonho . . . acordei !
Mas eu acho que o Cartola em um momento único de absoluta inspiração, sintetizou tudo em as Rosas não falam.
Diz ele:
Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai...
Qual seria a amada que não gostaria de ouvir de seu amado “as rosas exalam o perfume que roubam de ti”?
O funk ressurgiu a chamada coisificação da mulher como mero objeto de desejo animal amesquinhando-a e colocando-a na condição de “cachorra” onde o importante são os atributos glúteos e corporais, sendo que essa prática é estimulada pela minoria do gênero feminino.
A mulher que homenageamos merece ser reconhecida pela sua beleza, seu perfume, seus cabelos, seus olhos, mas antes de tudo, deve ser reconhecida pelos seus múltiplos papéis como dona de casa, profissional, mãe, amante, companheira e amiga. Mas a data deve ser um momento de reflexão sobre a violência física e psicológica a que muitas mulheres estão submetidas e que merece ser combatida por todos.
Chegam a dizer que Deus fez o homem e depois, caprichou e fez a mulher.
Vivam as mulheres!
Feliz Dia Internacional da Mulher!
Ilustração - catracalivre.com.br
Ser mulher está se tornando, penso eu, um pouco mais fácil. Hoje as mulheres tomaram consciência de que podem ocupar posições que antes eram privilégio dos homens e estes estão aprendendo a não olhar a mulher com o preconceito de antanho. São executivas, são mecânicas, motoristas, pilotos de aviões de carreira, margaridas (garis femininos), enfim, trabalhadoras que ajudam na provisão das necessidades do lar, antes restrita, quase sempre, ao homem.
Um segmento onde podemos verificar a evolução do tema é a música. Com efeito, apesar das excelentes composições, algumas causariam desconforto nos dias de hoje.
O Martinho da Vila, por exemplo, cantava, não sei se canta ainda, “você não passa de uma mulher”. No meio da canção ele mostra a coisificação da mulher descrevendo-a como uma refeição ao dizer “Um prato feitinho pra garfo e colher” e fecha a estrofe com o bordão “Você não passa de uma mulher (ah, mulher)”.
O grande Nelson Gonçalves, por sua vez, derrapou ao revelar a posição machista de que a mulher vivia em exclusivamente em função do companheiro.
Diz a música:
Levanta, levanta, nêga manhosa
Deixa de ser preguiçosa
Vai procurar o que fazer
Nêga, deixa de fita
Prepara a minha marmita
Levanta nêga, vai te virar
Deixei embaixo do rádio
Uma nota de cinquenta
Vai à feira, joga no bicho
E vê se te aguenta
Economiza, olha o dia de amanhã
Eu preciso do troco
Domingo tem jogo no Maracanã
Do bate bola eu sou um fã!
Germano Matias, além do machismo canta algo racista, inaceitável.
Minha nega na janela
Diz que está tirando linha
Êta nega tu é feia
Que parece macaquinha
Olhei pra ela e disse
Vai já pra cozinha
Dei um murro nela
E joguei ela dentro da pia
Quem foi que disse
Que essa nega não cabia?
Essa música, já justificaria além do reconhecimento dos crimes de racismo e injúria, a aplicação Lei Maria da Penha pois a mulher é agredida com um murro que a coloca dentro da pia e com o desabafo do companheiro: Quem foi que disse que essa nega não cabia?
Outro disparate é a mulher ideal, revelada pelo cancioneiro popular como aquela que passa fome ao lado do companheiro e acha bonito não ter o que comer. É uma mulher coformada e que nada faz para mudar essa situação. A mulher que conhecemos hoje pode suportar situações difíceis mas nunca vai achar bonito. Ela vai correr atrás e se preciso vai vender salgadinhos para ajudar na renda familiar. É uma guerreira.
Felizmente essas músicas não representam o romantismo de milhares de canções que realçam o valor da mulher por um ângulo bem mais digno.
Não há como falar de mulher sem lembrar de nossas mães.
Teixeirinha enaltece sua mãe, morta num incêndio, em 1936:
Passei fome passei frio
Por este mundo perdido
Quando mamãe era viva
Me disse filho querido
Pra não roubar, não matar
Não ferir, não ser ferido
Descanse em paz minha mãe
Eu cumprirei o seu pedido
O que me resta na mente
Minha mãezinha é teu vulto
Recebas uma oração
Desse filho que é seu fruto
Que dentro do peito traz
Este sentimento oculto
Desde nove anos tenho
O meu coração de luto...
Sem tragédia, Lamartine Babo escreveu essa linda canção, imortalizada na voz de Francisco Alves, depois gravada por Orlando Silva, Altemar Dutra e outros, sem perder seu encanto:
Eu sonhei . . .que tu estavas tão linda . . .
Numa festa de raro esplendor,
Teu vestido de baile . . . lembro ainda:
Era branco, todo branco, meu amor ! . . .
A orquestra tocou umas valsas dolentes,
Tomei-te aos braços, fomos dançando, ambos silentes . .
E os pares que rodeavam entre nós,
Diziam coisas, trocavam juras a meia voz . . .
Violinos enchiam o ar de emoções
E de desejos uma centena de corações . . .
P'ra despertar teu ciúme, tentei flertar alguém,
Mas tu não flertaste ninguém ! . . .
Olhavas só para mim,
Vitórias de amor cantei,
Mas foi tudo um sonho . . . acordei !
Mas eu acho que o Cartola em um momento único de absoluta inspiração, sintetizou tudo em as Rosas não falam.
Diz ele:
Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai...
Qual seria a amada que não gostaria de ouvir de seu amado “as rosas exalam o perfume que roubam de ti”?
O funk ressurgiu a chamada coisificação da mulher como mero objeto de desejo animal amesquinhando-a e colocando-a na condição de “cachorra” onde o importante são os atributos glúteos e corporais, sendo que essa prática é estimulada pela minoria do gênero feminino.
A mulher que homenageamos merece ser reconhecida pela sua beleza, seu perfume, seus cabelos, seus olhos, mas antes de tudo, deve ser reconhecida pelos seus múltiplos papéis como dona de casa, profissional, mãe, amante, companheira e amiga. Mas a data deve ser um momento de reflexão sobre a violência física e psicológica a que muitas mulheres estão submetidas e que merece ser combatida por todos.
Chegam a dizer que Deus fez o homem e depois, caprichou e fez a mulher.
Vivam as mulheres!
Feliz Dia Internacional da Mulher!
Ilustração - catracalivre.com.br