Iniciação para ser escritor (2)
No meu texto INICIAÇÃO PARA SER ESCRITOR, eu relatei um trecho da vida de meu irmão, AFONSO. Um viver atribulado, neste período de sua vida ele quase ficou louco, calculo que sua idade era trinta a trinta e cinco anos, ou pouco menos, quando um de seus filhos morre de maneira trágica enforcado no berço. Algumas testemunhas afirmaram que sempre a criança chorava compulsivamente, e a Teresa sua esposa não verificava. Um dia a criança aparece morta no berço. Depois foi aquela reviravolta na vida de meu irmão.
Pois é meus amigos leitores, (aqueles que por ventura me acompanham nesta história verídica) o meu contato pra valer com meu irmão se deu quando digitei as suas poesias umas centenas de obras maravilhosas. Consegui imprimir na minha impressora poucos livros de suas poesias. Sabia que ele estava contente, mas mesmo assim arrisquei lhe fazer uma pergunta:
--- Então, Afonso, está satisfeito com apenas poucos livros de suas poesias?
--- Estou sim, Lourenço, sinceramente lhe agradeço, eu pensei que as minhas poesias não sairiam do meu caderno, rsss...rs... Não sinto frustrado por não conseguir mais publicações em alguma editora, mesmo assim continuarei escrevendo, porque é a minha válvula de escape.
Eu sabia o peso destas palavras do mano. Um homem com bem mais de sessenta anos, viúvo, com uma filha deficiente pra cuidar, por tudo o que passou como relatei no meu texto: --Iniciação para ser um escritor-- sobrava ânimo pra escrever obras lindíssimas, mas faltava vontade para sair, passear, fazer tudo que o ser humano precisa para aguentar a viver.
Em algumas de suas poesias estava abertamente declarado o grande amor que ainda sentia pela sua falecida esposa Teresa. Nas suas inspirações podia notar reconhecimento, remorsos, tudo aquilo que às vezes o ser humano reconhece que podia ainda ter feito a outro ser humano.
O meu contato com ele se tornava mais frequente, gostava de ouvi-lo, falava muito do sobrenatural, estes mistérios insondáveis, me explicava também as próximas poesias que pretendia escrever, os seus significados. O maior de seu pesar era quando ele morresse sua filha ficaria desamparada, eu sempre lhe dizia que não, porque ele ainda tinha um filho já adulto, casado que poderia continuar a cuidar dela. Entretanto sempre relutava, seu sentimento era latente, dizia que o filho e a nora não se importavam com ele. Não redimia nem quando eu lhe dizia que seu filho com a esposa queriam ajudá-lo. Apesar de sua notada inteligência, uma capacidade incrível de entender a vida, Sua mágoa era visível com algumas pessoas.
Parecia feliz quando eu estava a seu lado. Algumas vezes falava:
---- Nossa! Lourenço, parece que eu e você herdamos alguma coisa de nossa mãe, porque ela gostava também de escrever. E assim nossas conversas se estendiam, falávamos de suas poesias, das minhas poesias, dos meus contos. era grande sua confiança a mim depositada. Muitas vezes quando sentia-se mal, eu recebia seu telefonema para providenciar sua ida ao hospital. Quando recebia alta sentia-se renovado, e assim se sucedeu várias vezes. Mas a enfermidade teimava em voltar, passava alguns dias tinha que ir às pressas ao hospital. Me declarava sempre que não tinha medo da morte, mas a preocupação dos cuidados com a filha que era a que o atormentava, alguns de seus comentários:
---- Quando eu morrer quem cuidará dela?
Eu tentava argumentar de que não adiantava as suas preocupações no presente, as coisas se encaixariam perfeitamente.
Até que aquela viagem sem volta que um dia temos que fazer ele fez, falece com apenas 69 anos. Eu continuei com aqueles pensamentos que muitos seres humanos tem: --- Poderia ter cuidado mais dele, captado mais teus conhecimentos, ouvido também mais suas histórias... Lutado para que ele tivesse mais a sua merecida paz em vida, uma delas seria a reconciliação com seu filho que morava a poucos metros de distância e que sua esposa muitas vezes com lágrimas nos olhos me dizia:
---- o que eu mais queria era cuidar do senhor Afonso, seria tão bom!
Ah! Depois de sua morte, seu filho amparou a irmã deficiente.