Homenagem ao artista poente
"Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão..." Dizem que Vinícius fez essa letra após conhecer a Casapueblo em Punta Ballena, no Uruguai. Pode ser...
Já ouvi que ninguém se lembra do sol nem dos velhos que se põe, mas Lúcia e eu nos emocionamos há 3 anos na sacada dessa casa estranha e belíssima, ouvindo o poema composto e declamado por Carlos Páez Vilaró, numa longa saudação que se repete todos os finais de tarde enquanto o sol afunda lentamente no horizonte.
Aliás, a Lúcia me lembrou há pouco de uma lenda que faz parte da mística da Casapueblo segundo a qual mesmo que esteja chovendo, o céu se abre numa trégua para que o sol possa ouvir o poema; no nosso caso aconteceu exatamente isso, estávamos em Punta Del Este numa tarde chuvosa e a Lúcia quis ver para crer. No exato instante em que os primeiros acordes do Concerto de Aranjuez, de Joaquin Rodrigo se fizeram ouvir pelos alto-falantes, o sol reapareceu por algum encanto e para não contrariar a lenda...
" ... Chau Sol…! Gracias por provocarnos una lágrima, al pensar que iluminaste también la vida de nuestros abuelos, de nuestros padres y la de todos los seres queridos que ya no están junto a
nosotros, pero que te siguen disfrutando desde otra altura."
" ...Adeus Sol...! Obrigado por provocar-nos uma lágrima ao pensar que iluminastes também a vida de nossos avós, nossos pais e as de todos os entes queridos que já não estão junto a nós, mas que seguem te desfrutando desde outra altura.
"Adiós Sol…! Mañana te espero otra vez. Casapueblo es tu casa, por eso todos la llaman la casa del sol. El sol de mi vida de artista. El sol de mi soledad..."
Adeus Sol...! Amanhã te espero outra vez. Casapueblo é sua casa e por isso todos a chamam de casa do sol. O sol da minha vida de artista, o sol da minha solidão..."
Amanhã não haverá sol para o artista, pelo menos neste plano pois ele também se pôs aos 90 anos, mas ficou uma vasta obra que inclui esse inspirado sonho que demorou mais de 50 anos para se tornar obra-prima e realidade magnífica, em branco e branco, "feita com muito esmero, na rua dos bobos número zero".
Gracias, Vilaró!
Leo