Oração matinal a Joaquim Cardozo
Joaquim, eu te leio como uma prece matinal a clarear o meu dia, mantendo a coerência das linhas de meu mundo, decaído e esplendoroso conforme a direção do sol. No soneto exato, a métrica que me faltou à vida. Na voragem construtiva do Ser, tua compreensão do mundo, espelhada em vogais e consoantes tomadas ao léu. Sonantes como braços de mar, tornados trilha matinal luminosa e mística, tal luz matinal e vitrificada de antigas igrejas, semeadas entre ladeiras e ruas estreitas. Nas torres para sempre inacabadas de algumas, impasses em pedra e tijolo entre a Fé e o Ter. Indecisão pétrea a esperar tua métrica final e mágica, a completar-lhes o sentido em pedra e concisão espiritual. O rigor lírico, persuasivo e claro, convencendo o rigor exato, maquinal e claro, a suspender-se um segundo e tornar-se chuva ou leve suspiro do céu sobre a Rua Nova, a compor a beleza além da beleza, de velhas fachadas e cerradas portas. No sono triste e multicor das pálpebras roídas pelo tempo, a estocada fria e precisa da eternidade do momento. Em 01/01/2013.
A Joaquim Cardozo, (1897-1978), engenheiro-poeta, uma homenagem.