Pai...

Lembrei-me que eu acordei hoje triste com o coração oprimido e choroso. Botei uma música pra tocar... E de lá vinha uma melodia bonita e acolhedora, mas ela não me contava da tristeza que soprava uma saudade estranha. Eu apenas sentia.

Era você e a sua ausência. Sempre foi assim, não é Pai? Você e o vazio, sinônimos de uma vida inteira. Sabe? Eu nunca conseguir falar do meu amor por você e mesmo que eu falasse talvez não seria compreendido ou mesmo correspondido. Não sei, nunca vou saber!

Uma vez, ainda criança estudando no primário, eu fiz uma colagem no dia dos Pais. E naquela manhã eu tinha deixado a escola determinado a entregá-lo. Só que você nunca soube disso, pois eu voltei do meio do caminho, convencido pelo medo que seria melhor abandonar aquela ideia boba e infantil.

Eu me arrependo, Pai... Eu deveria ter concluído o meu propósito e selado aquele gesto simples de um filho para um Pai com um forte abraço. E uma vez ali, enlaçado no teu carinho, deveria ter dito da falta absurda que você fazia em minha vida, esquecendo-me de qualquer aborrecimento ou mágoa, convidando-lhe para, definitivamente, ocupar o seu espaço de direito em minha história. Desculpa, Pai aquela tola insegurança.

Juro, Pai! Eu imaginei que teria tempo de aprender a lhe entender. Tempo de compreender a sua distância, demora e silêncio. Perdoa-me, eu não sabia fazer diferente.

Por isso, quando vieram me dizer que seu estado clínico havia se agravado e que eu deveria ficar mais perto... Eu fui com medo, assustado sentindo tanta coisa que até hoje eu não sei definir. No entanto, eu lhe garanto que não eram coisas boas. Eu já havia crescido um pouco, evidente que não o bastante para administrar aquela situação com equilíbrio... Na verdade, desconfio que apesar da maturidade eu ainda não saberia como me comportar.

O fato é que fiquei acuado sem dizer, mais uma vez, o que estava engatilhado há muito tempo. Tempo! Eu achei que teríamos tempo. Eu tinha certeza desse tempo, Pai. Mas, aí você achou de ir embora e nem disse que não ia voltar... Nunca. Pra sempre!

Você não viu Pai, mas doeu tanto!

Dói até hoje...

Eu só queria o prêmio de poder sabotar o tempo e lhe alcançar outra vez, sem desperdiçar a oportunidade de declarar o meu amor, assumindo de vez a sua importância.

Eu sinto muito! Eu sinto muito, Pai! Porém, só resta a saudade do que jamais tivemos e nem teremos.

Amo-te, pra sempre!

Toni DeSouza
Enviado por Toni DeSouza em 03/02/2014
Código do texto: T4675790
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