Marcas em nossas vidas, ..., dona NICE!
Corria o ano da graça de 1989!
Dona Eneliram e o senhor Semeh agregaram aos seus afazeres habituais de uma vida de luta intensa, mas feliz, uma nova atribuição!
Costume milenar, enraizado com maior vigor em ‘terras cariocas’ de onde provira a parte feminina acima citada, a apresentação à sociedade, assim como religiosamente já havia sido feita a apresentação a Deus através do batismo, tinha de ser realizada através de uma festa de debutante, assim como havia sido a festa da consagração do batismo.
Preparativos antecipados, providências relativas às aquisições necessárias a realização do evento eram divididas entre os dois responsáveis que visavam, na medida do possível e dentro de suas posses, que fosse uma festa de princesa, como bem merecia a primogênita Ataner, a debutante!
A par dos esforços despendidos pelo unido casal, devia se ressaltar o merecimento total que a jovem fazia em prol deles. Sempre fora uma excelente filha, obediente, comportada, boa aluna, carinhosa, educada... Poucos e irrelevantes eram os adjetivos que a pudessem desqualificar, todos eles inseridos no campo da perfeita normalidade!
Um dos quesitos primordiais para que o evento ocorresse no campo da mais perfeita normalidade, prendia-se ao local onde deveria acontecer. Em sendo assim, com brevidade saíram os pais a cata de localização que fosse de fácil acesso e que propiciasse conforto e segurança a todos que participassem da aguardada comemoração.
Aqui e ali coletaram informações até serem direcionados a um salão tradicional que apresentava todas as características que buscavam, sendo localizado em uma das principais ruas da cidade de São Caetano do Sul, local bem próximo de onde residiam e de fácil acesso a todos aqueles que seriam convidados.
Os preparativos corriam de acordo com o planejado, deixando satisfeitos os felizes organizadores. Detalhes como vestimenta das madrinhas, da debutante, próprias, o bolo, salgadinhos, doces, bebidas, enfeites do salão, foram minuciosamente checados pela senhora Eneliram, sempre muito proficiente em tudo o que fazia. Ao senhor SEMREH couberam atividades tais como a segurança do local e cercanias, os rapazes que serviriam como parceiros da madrinha fazendo às vezes de padrinhos para dançar a valsa, acertos dos pagamentos e consequente controle dos gastos...
Especialmente três das principais atividades merecem capítulos especiais e justificam narrativa à parte: O bolo, a decoração do salão e por fim, o comparecimento maciço dos convidados.
Especialmente ‘bolado’ pela matriarca, o ‘design’ do bolo mereceu ‘rasgados’ elogios da pessoa contratada para sua confecção, que confessadamente alegou que apesar da enorme experiência que tinha na elaboração de tal atribuição, nunca havia se deparado com trabalho com tão dignificantes detalhes e tanta pertinência com a homenagem de pais para filha. O bolo, simbolizando uma ponte que cruzava as águas cristalinas de um riacho que circundava um palácio, tendo sob ela um espelho e sobre este alguns cisnes que ‘flutuavam’!
A decoração do salão, feita também segundo a vontade e orientações da matriarca, que teve o condão de encontrar logo em suas buscas iniciais e contando com indicação de pessoas que já havia utilizado o serviço da profissional, uma senhora há muito estabelecida no comércio de flores e que era possuía uma pequena loja nas proximidades de um ‘campo santo’, também executava, sob encomenda com devida antecedência, a ornamentação de ambientes festivos.
E, como ‘grand finale’, houve comparecimento maciço dos convidados, inclusive de alguns que se deslocaram de outros estados do país, todos presenteados com agradecimento especialíssimo, também ‘bolado’ pela matriarca, que ‘encomendou’ junto ao professor de dança das filhas, o ensaio de um número especial, que denotasse toda a satisfação e o agradecimento que a debutante devotava pelo comparecimento de seus amigos convidados. Convém salientar que os convidados representam o principal ‘ingrediente’ de uma celebração. Sem eles não haveria razão de todos os preparativos, todo o esmero, todo o gasto, todo o tempo despendido... A dança, que foi um misto de dança clássica com popular, emocionou a todos, denotando tudo o que havia sido planejado pela idealizadora e ainda demonstrando o enorme amor que unia as irmãs, que dançaram lado a lado...
E como tudo em nossa vida, os inexoráveis anos se passaram...
Em 2013, 24 anos decorridos do evento acima reportado, desenvolvendo atividades estagiárias forenses, o Sr. SEMREH dirigia-se a Prefeitura com o intuito de tentar resolver assunto atinente ao desembaraçamento devido obras de ampliação na estrutura de sua residencia.
Com de praxe, utilizando transporte coletivo para seu deslocamento diário, ‘aportou’ em ponto próximo ao local desejado e iniciou breve caminhada que o levaria ao seu destino de momento. Ao cruzar a avenida principal na qual havia descido do coletivo, lhe veio à mente que exatamente naquela esquina na qual existem vários boxes que comercializam flores, arranjos, plantas, coroas de flores (devido à proximidade do ‘campo santo’, que para quem não está afeito a denominação mais respeitosa, é conhecido como cemitério!), que foi exatamente em um deles que contrataram para execução dos trabalhos de ornamentação do salão que abrigou os festejos comemorativos do ‘debut’ de sua primogênita (convém salientar que decorridos três anos, mais precisamente em 1992, foram repetidos todos os passos para celebração do festa de ‘debutancia’ de sua caçula, ALUAP...). Veio-lhe à mente também o nome da senhora que foi a responsável pelo trabalho de ornamentação nas duas ocasiões: Dona Nice!
Com curiosidade ficou observando os boxes que se perfilavam lado a lado buscando algum indicio remanescente que lhe delineasse exatamente em qual deles havíamos executado aquela parte importantíssima das realizações daqueles atos não menos importantes de suas vidas!
Na procura ‘aguçada’ notou no interior de uma das construções uma ‘mignon’ figura feminina que por lá se movimentava. De imediato não teve qualquer dúvida! Lá estava a Dona Nice, como há alguns anos!
Permaneceu parado em frente ao Box e ficou observando a movimentação em seu interior até que a senhora, não soube precisar se por notar sua presença ou por vontade própria, dirigiu-se até a entrada de seu comércio diretamente em sua direção.
Com um sorriso a cumprimentou, enquanto analisava a aparente ‘frágil silhueta’ que se aproximava denotando que o tempo não havia sido muito ingrato com aquela batalhadora senhora e que, guardadas as devidas proporções, mantinha-se com aspecto ‘jovial’ e aparentando excelente disposição.
Embora de antemão já tendo certeza de que se tratava da senhora em questão, indagou se era com a Dona Nice que estava falando.
Seriamente, a senhora o olhou e acedeu perguntando quem era ele.
Paulatinamente lhe ‘relembrou’ acerca das negociações havidas há tempos e ela, com um sorriso disse que apesar de todos os anos passados e de tantas ornamentações e pessoas com as quais havia interagido ao longo deste período, recordava-se com muita clareza da simpaticíssima, educada e gentil senhora que a havia tratado como uma Amiga que lhe prestaria um grande favor e não como uma simples prestadora de serviço impessoal, como costumeiramente fazem quase todos que procuram seus serviços.
Quando relembrei a moreninha que esteve debutando, visivelmente emocionada relembrou que esteve no dia da comemoração no dia do evento para dar a devida guarida para qualquer eventual necessidade decorrente a complemento de seu trabalho e que, literalmente, havia vertido lágrimas pela maneira família que tudo havia transcorrido e que dificilmente se repetiria ao longo da continuidade de sua prestação de serviços. Completou dizendo que o agradecimento em forma de dança que a jovem havia feito em companhia da irmã aos presentes valeu por tudo o que havia feito de forma ‘caprichada’ para auxiliar no brilhantismo da comemoração!
Com promessa de que por lá retornaria, quem sabe em companhia da aniversariante da época, já acompanhada de sua filhinha que já está com 10 anos de idade, bem como de minha queridissima esposa, despedi-me da ainda solerte senhora, com os olhos marejados por resgatar memória tão grata em nossa existência!
Muito grato, Dona Nice!