SIMONE DE BEAUVOIR*

#Luciana Carrero

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir,

este foi o pomposo nome

que meu pai me deu, em Paris

Fui escritora, filósofa existencialista

e feminista francesa.

Escrevi romances, monografias filosóficas,

políticas, sociais e ensaios;

biografias e uma autobiografia.

Na família fui

a mais velha das únicas duas filhas

de Georges Bertrand de Beauvoir,

advogado e ator amador,

e de Françoise Brasseur,

uma jovem mulher, de Verdun.

Era uma criança atraente, mimada,

teimava em obter o que queria;

centro das atenções da família.

A mãe não foi uma grande costureira,

e as roupas eram mal ajustadas.

Ao crescer, eu não tinha amigos

além da irmã Poupette,

que era dois anos e meio mais nova

e de quem fui próxima.

O avô materno, do Banco Meuse,

faliu, “jogando toda a família

em desonra e pobreza”.

(Este não é meu pensamento)

Meu pai não recebeu o dote

por casar-se com Françoise,

e a família teve que se mudar

para um apartamento pequeno.

Georges de Beauvoir

teve de voltar ao trabalho,

embora este não lhe agradasse.

A família lutou para manter lugar

na alta burguesia.

Georges dizia-nos, frequentemente:

"Vocês, meninas, nunca vão casar,

porque não terão nenhum dote".

Sempre estive consciente

de que meu pai esperava ter um filho,

ao invés de duas filhas. Ele afirmava:

"Simone pensa como um homem!"

o que me agradava muito,

Desde pouca idade

distingui-me nos estudos.

Georges de Beauvoir passou-me

seu amor pelas artes do teatro

e da literatura.

Ele considerava que

somente o sucesso acadèmico

poderia tirar-nos da pobreza.

Hélène tornou-se pintora.

Eu, uma adolescente desajeitada,

dedicada completamente aos livros

preferi ignorar os desportos

porque não era nada atlética.

Eu e a irmã fomos educadas

no Institut Adeline Désir

ou Cour Désir, uma escola católica

para meninas, algo desprezado

pelos intelectuais da época.

Escolas católicas para meninas eram vistas

como lugares onde as jovens aprendiam

uma das alternativas dadas às mulheres:

casamento ou convento.

Minha mãe era uma intrusa

espiando cada movimento meu;

frequentou as aulas conosco

sentada atrás de nós

costume de certas mães, à época

Lá, conheci minha melhor amiga,

Elisabeth Le Coin (Zazá)

que influenciou de forma definitiva

minha personalidade

Na escola me formei com "distinção”

Cedo decidi que seria escritora.

Jacques Champigneulle tornou-se

meu mentor intelectual e amigo,

A mãe esperava que eu casasse com ele

Geraldine Paro e Estepha Awdykovicz

tornaram-se minhas amigas.

Depois de passar nos exames,

bacharelado em matemática e filosofia,

estudei matemática no Instituto Católico

literatura e línguas no Instituto Sainte-Marie,

e em seguida, filosofia na Sorbonne;

Fiz uma apresentação

sobre Leibniz.

Lá, conheci outros jovens intelectuais,

incluindo Maurice Merleau-Ponty,

René Maheu e Jean-Paul Sartre.

Maheu deu-me o o apelido

que me acompanhou na vida:

Castor, por causa da ética do animal.

Fui a pessoa mais jovem a obter

o Agrégation na filosofia,

Fiquei em segundo lugar.

Sartre, foi o primeiro

Minha amizade com Zaza

foi abruptamente rompida

com sua morte precoce

Narrei esse episódio da vida,

no primeiro livro autobiográfico,

“Memórias de uma moça bem-comportada”,

em que critiquei valores burgueses.

Logo uni-me estreitamente a Sartre

e a seu círculo, criando entre nós

uma relação polêmica e fecunda,

que a todos permitiu compatibilizar

liberdades individuais e vida conjunta.

Dizem difícil caracterizar-nos como casal,

porque vivemos longas relações amorosas

cada um com outras pessoas.

Tive forte relação

com escritor norte-americano

logo após a guerra,

e não vou citar o nome

Mantive relação duradoura

com Claude de Tal

No verão, era comum eu e ele

viajarmos com Sartre e a amante Michelle

ex-esposa do escritor Boris X

Fui professora de filosofia

em escolas de Ruão e Marselha.

Morri de pneumonia em Paris,

aos 78 anos. Encontro-me sepultada

no mesmo túmulo de Jean-Paul Sartre

no Cemitério de Montparnasse em Paris.

*Alegoria