...E Ela Cantarolava...
E ela cantarolava
Enquanto arrumava a casa,
Guardando nos seus lugares
Cada coisa, cada caixa,
Limpando seu coração
E também o nosso chão...
Às vezes, ela gritava,
De pura insatisfação...
E ela cantarolava,
Wando, Iglesias, ou Roberto,
Cortava, assim, as cebolas
Que a faziam chorar...
Cozinhava outro jantar,
Lavava, mas não passava
A dor que ela trazia...
Mesmo assim, ela cantava!
E ela plantava flores
Canteiros que ela cuidava;
Escondia os dissabores
Da vida que ela levava
Por sob os panos de prato
Que no arbusto, ela coarava.
Cabeça cheia de sonhos
Distantes, que ela guardava...
E ela cantarolava,
E eu abria meus cadernos
Sobre a mesa de madeira
Enquanto eu só estudava;
Tanta coisa eu aprendia,
Outras, que eu só decorava...
E ela apontava o dedo
Na página mal-pintada.
E ela cantarolava
Tentando esquecer as perdas
Dos que a morte levava,
Enquanto espanava a sala.
Depois de pronta a comida,
A gente então se sentava
Em frente à Sessão da Tarde;
E assim, a vida passava...
Para Minha Mãe
Às vezes, a lembrança é como um passarinho que pousa na janela.