Fotografia de © Ana Ferreira
CEM SONETOS DE AMOR (OBRIGADA, NERUDA!)
Desde tenra idade que nutro uma intensa admiração pela obra poética de Pablo Neruda, e hoje, qual não foi o meu espanto quando recebi de presente o livro Cem Sonetos de Amor, para mim, o que melhor traduz a elegância, a doçura, a melancolia e o lirismo da poesia do autor. É a segunda vez que ganho este livro, sendo que a primeira foi no dia do meu décimo oitavo aniversário. Um livro que ficou velhinho e gasto, de tantas vezes ter sido lido e emprestado. Acabei por perdê-lo, pois a última pessoa que o pediu emprestado nunca o devolveu.
A poesia de Neruda é de uma sensibilidade ímpar que atinge profundamente o leitor seja em seu tom patriótico e político (chileno socialista de coração), seja em seus versos de amor. Ler sua obra é sentir em palavras o talento do Nobel de Literatura que viveu para as palavras e por elas sofreu e cantou.
O soneto que abaixo transcrevo, A Dança, é uma das mais belas declarações de amor que alguém já escreveu e, para mim, um dos melhores sonetos do autor. Foi divulgado no filme Patch Adams, no qual Patch o recita para Monica Potter. Vale a pena recordar, clicando aqui.
Obrigada, Neruda! Obrigada, Poesia!
A DANÇA
Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és,
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha,
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
(Pablo Neruda, in Cem Sonetos de Amor)