SOMETHING AFTER JOHN
SOMETHING AFTER JOHN
O dia 8 de dezembro de 1980 caiu numa 2a.feira.
Subia a avenida rio branco, em Juiz de Fora, no passeio leste em direcao a minha sala de aula, onde treinava uma turma para o desenho aplicavel a propaganda. A aula comecaria as duas da tarde e, pouco antes, eu ainda caminhava em frente ao Stela Center, em construcao sobre o terreno do antigo colegio Estela Matutina, quando vi caida no meio fio a primeira pagina do Diario da Tarde com a manchete estampada que John Lennon havia sido assassinado.
Daquele instante para frente o resto do dia foi como que anestesiado. A cabeca ja' cheia da nossa ditadura com assassinatos e sumico de gente atraves da America Latina e, naquele instante, a execucao, para mim, se assumia como completamente solta mundo a fora...
John Lennon havia entrado na minha vida jovem quando eu estava hospedado num hotel no Libano, a servico da ONU pela paz no Oriente Medio, no final de 1965, e ouvi pela primeira vez o “And I Love Her” dos principiantes Beatles.
Apos a aula daquele 8 de dezembro, voltei para meu atelier, cujo nome era " O Futuro dos Incas", e nao consegui relaxar ate' que tomasse do pincel, tela e tintas. Abri uma revista com a foto do John Lennon vivo e a cores e de um folego so’ pintei a boca dele aberta num enorme closeup em tons de cinza. Resolvi desenhar o retrato do rosto por inteiro, a cores, com lapis cera, logo abaixo da sua enorme boca para nao deixar duvidas de que se tratava da boca do John em tons cinzas. Chamei o quadro de “Carta-Cartaz a Minha Geracao”.
O Eliardo Franca dirigia aqueles dias as exposicoes da Pro-Musica e expos meu quadro no corredor de entrada por um longo tempo.
Tempos depois, ja’ morando em Nova York, visitei inumeras vezes o Dakota e a mandala do Imagine no Central Park em pleno Strawberry Fields Forever, onde anualmente no dia 8 de dezembro musicos e fans se reunem para tocar e cantar as musicas de John Lennon.
Durante esses dias, recontactei via net um amigo de juventude, o Luiz Sergio Henriques e falavamos sobre o John Lennon quando resolvi presentea-lo com este meu quadro. Aproveitei e adicionei um poema que fiz agradecendo ao visitante que raspou com a unha o desenho a lapis cera do John, como que para testar a veracidade do desenho. O agradecimento e’ justamente pela certificacao que o gesto autentica o sopro de vida que consegui fixar do John Lennon nao morto.
Eugenio Malta