Despedida - vá em paz, vô
Quem sabe o que é perder alguém? Acho que todo mundo, afinal este é o curso natural da vida. Mas perder, perder é algo muito abrangente, existem várias formas de se perder alguém. A morte é sim um abismo que nos separa de quem amamos, mas não é o fim exato de tudo. Não sei se isso é uma crença ou uma verdade, mas é o que me sustenta no momento. E por mais que eu tente encontrar consolo, não existem palavras ou atitudes que amparam nessas horas. É que perder um ente querido é normal, todos passam por isso algum dia. Mas se envolver tanto com alguém, criar uma rotina com essa pessoa, sua vida girar em torno dessa pessoa torna tudo mais difícil. Eu fiquei seis anos, quase sete, ou sete mesmo, não fiz as contas, cuidando do meu avô. Não foi fácil, tive várias vezes vontade de jogar tudo para o alto e sumir, passar para outra pessoa essa responsabilidade. Sim, quando se cuida de alguém, por mais que seja por amor, um monte de responsabilidades se depositam em seus ombros. Mas agora já nem sei mais porque pensei em desistir, porque tive vontade de deixar tudo de lado. É que quando as pessoas morrem, sempre vem o pensamento de que poderíamos ter feito mais. Eu não poderia, sinceramente, fiz o que pude e o que achei que não fosse capaz de fazer. Fui além de qualquer barreira, já não sabia se tinha um avô que sofria do mal de Alzheimer ou um filho pequeno pra cuidar. Me entreguei, criei um laço indissolúvel e eterno com ele. Não me arrependo nem por um segundo, de nada. Não me arrependo das vezes que falei firme com ele, das vezes que o forcei a comer para não ficar sem se alimentar, das vezes que o tirei da cama a força porque ele não queria acordar. Não me arrependo das vezes que o levei pro banho mesmo ele dizendo que não queria. Jamais me arrependerei por ter feito o que era melhor pra ele. Também não me arrependo de todas as festas e momentos que deixei de participar para ficar com ele, do tempo que passei com ele no hospital, nas vezes que esteve internado. Talvez eu me arrependa por não ter ido visitá-lo no sábado, quando ele estava internado no cti, mas em todos os outros dias eu estive presente. E hoje, 27 de novembro de 2013, não pude vê-lo. Cheguei ao hospital para a visita, mas ele não havia resistido. Faleceu o meu bonitinho, meu avô, meu filho, meu anjinho. Consta no laudo que ele veio a óbito por insuficiência respiratória, causada por uma pneumonia grave. Mas no meu laudo consta que ele descansou, que aceitou sua hora e partiu. O homem com quem mais aprendi, pois era fonte inesgotável de sabedoria. Mesmo quando já não tinha mais consciência de muitas coisas, quando já não se lembrava dos familiares e amigos, mesmo quando nem falava mais coisas conexas, ainda sim ele era sábio. Até seu falecimento me trouxe muita sabedoria, mesmo com toda a dor de sua partida. Aliás, bem educado, esperou todas as pessoas que o cercavam diariamente visitá-lo, resistiu bravamente, e só se foi quando ninguém estava por perto. Talvez para amenizar a dor, talvez para poupar algum trauma, talvez para não se sentir preso a necessidade que tínhamos de tê-lo por perto. Não sei dizer o motivo, mas ele foi assim, miudinho, quando não havia ninguém por perto. Ele descansou, e foi um descanso merecido, pois estava sofrendo muito. As únicas coisas que me confortam: ele descansou e até seu último suspiro, fiz o que pude. Hoje está sendo o dia mais triste de toda minha vida, e olha que tenho apenas vinte anos, mas provavelmente não haverá dia mais triste que este. Do fundo do meu coração, espero que ele tenha tido uma boa passagem, que tenha encontrado muita luz. Quem vai, descansa. Quem fica é que sofre. Mas Deus irá amparar minha família e ao meu coração, pois sei que foi feito o melhor para ele. Muito obrigada a todos, todos que oraram e pediram por ele, todos que nos ajudaram nessa fase de luta, todos que continuam pedindo a Deus o conforto num momento de perda. Deus é contigo e eu sou eternamente grata a todos.