SoulBook - Carta eletrónica aos meus amigos
Somos hoje, mais que nunca, uma complexidade esboçada num vímeo ou num youtube. Representamo-nos numa rede social com o que outros criaram, sonhamos com palavras que nunca antes tocámos, que nunca antes sentimos. E está ali tudo, à distância de um “click” fácil, rápido e, por vezes, distraído – influenciado apenas por alguém que julgamos admirar. Só o admiramos porque não o conhecemos… Conhecemos apenas a partilha dos outros que ele admira!
Seremos, por agora, mais que isto? Quem somos verdadeiramente dentro dos nossos anseios? Partilhamos algo que é intrinsecamente nosso, com os que admiramos, com os que nos admiram, com os que julgamos conhecer?
Julgo que cresce um novo conceito de amigo, o amigo virtual. Como podes ser amigo de um alguém desconhecido? De quem não conheces as lágrimas nem os sorrisos, os desejos e as angustias?
Partilhas a tua arte, a tua essência? Ou a dos outros? Terás tu arte para mostrar neste mundo digital, ou a tua arte de ser é demasiado carnal?! Inexistente à ausência de um contacto profundo onde choras ou ris deixando o ser do outro entrelaçar-se no teu.
Dou por mim a vaguear na estética sugerida, deixando a minha criatividade desvanecer-se na inspiração que fui encontrar num perfil solto ao acaso numa página sugerida! Estou apenas a comunicar através de “clichés” habituais, a mostrar o que encontro por ai, nada de mim demonstro a não ser “gosto” e “não gosto”.
Outra forma de utilização mostra-se profunda, uma janela que se abre com um nome entusiasmante que me faz ficar horas a escrever, um português pouco correto e cheio de novas palavras que não existem mas que me levam a uma comunicação verdadeira, sentida, prazerosa. Que me faz chorar de emoção por sentir um Amigo tão perto, mesmo estando tão longe.
Os Amigos já não se reúnem à volta da fogueira como outrora! Reúnem-se numa janela secreta em torno de publicações e partilhas. Que saudade de alguém que existe e não está aqui, mas que surge na minha janela.
Continuo a fazer fogueiras, mas o sinal de fumo já não é legível – há muitas luzes na noite, por aí. Que saudades da fogueira repleta das gentes que realçam o melhor que há em mim… que apontam o pior que há em mim, aceitando-me e ajudando-me a crescer mais e mais; a ser cada dia um pouco melhor do que fui num ontem esquecido.
Vou continuar a abrir a janela com o mesmo amor e entusiasmo com que num passado me sentei à fogueira com o frio a tremer por mim.