Homenagem a António Ramos Rosa 1924 - 2013
As palavras floriam nos teus dedos e os poemas amadureciam como frutos que, da tua boca, escorriam, como rios jovens ou sementes. Falavas e o céu, tornado próximo, baixava até ser colchão ou manta, azul macio, leveza de anjo. O corpo e a pedra, o fogo e o tempo, o futuro em rastos de terra arada, ferida e úbere, agreste e mansa como cabe a amores definitivos. Visitaste a intimidade de ramos e folhas para sentir em ti a árvore inteira, o apelo da floresta, o caos verde em que, serena, a tua vista descansou. Também, nas asas de qualquer ave, te fizeste ao sonho e à aventura e, pela ideia que te nascia com raízes viscerais te prendeste à vida onde se amarga o pão e se ganha a verticalidade. Nasceste pronto e foste água, mar, a revolução que deu densidade aos mistérios e os marcou de diferença. Homem, barro, sangue, raiva a cumprir o caminho e a sede. Homem e Poeta, espelho da beleza em que, pelos teus caminhos nos apontaste, iluminado, outro destino.