Sonetos Condensados

Eu não poderia deixar de homenagear uma grande personalidade que aconteceu na minha vida: Clóvis Pereira Ramos, amazonense que veio para a nossa terra o Maranhão, desde cedo e se encantou com suas belezas naturais e, principalmente, com os autores deste torrão e seus encantadores sonetos. Membro da Academia Brasileira de Trovas e Academia Maranhense de Letras, Clóvis Ramos foi um apaixonado pelas letras maranhenses e por aqui ficou pesquisando e escrevendo para o nosso deleite. Autor de dezenas de obras publicadas e por publicar maravilhou o Maranhão e o Brasil.

Nós nos conhecemos no início da década de noventa e eu tive o privilégio de conviver com ele por muito tempo, onde aprendi muito sobre poesia, letras nacionais e trovas, o que me deixa muito grato por tudo o que ele me proporcionou.

Dos mais variados livros dele que os guardo com orgulho, todos autografados, há um mais maravilhoso que todos os outros cujo título é “Onde Canta o Sabiá” – Estudo Histórico Literário da Poesia no Maranhão, no qual ele apresenta os sonetos de autores maranhenses mais populares do Maranhão. Mas deixo aos senhores mesmo uma “palhinha” do que ele diz no terceiro parágrafo da obra:

“Apresento, aqui, os sonetos – cento e um, ao todo –, aqueles que se tornaram mais populares no Maranhão, os que mais me agradam pela beleza ou originalidade dos temas, inspirados no mar, no sino da Igreja de São Pantaleão, em lendas e rosas, nas mãos, seios e olhos das amadas, na ternura das mães, em velhos carros de boi, na filosofia, enfim, e na religião. Versos que nos enchem de encantamento.”

Ele, de uma incrível sensibilidade, sabia enxergar e sentir com maestria as emoções dos escritores e poetas maranhenses.

Eis, de Clóvis Ramos, dois de seus sonetos condensados:

BANDO SINISTRO

Ao crescente lunar, vagam, sem norte,

Espíritos do mal, atormentando

Os que se foram deste mundo odiando,

Os que tombaram no pavor da morte.

Segue, sem brilho, o ruidoso bando

No álgido vento que soprou, ao forte

Tufão que faz na face fundo corte

E, nalma em chagas, põe a dor vibrando.

Ah! Procurando a calma que não veio,

Sinistramente vão seguindo! Feio

Pântano impede a marcha sem vitória!

E vão rolando para o abismo tredo

Lívidos vão, no turbilhão do medo,

À morta luz da lua merencórea!

REGIÃO DO PRANTO

À luz de um sol sem brilho, acorrentados,

Tangidos para longe, em passos lentos,

Vão conduzidos para os sofrimentos,

Os Espíritos do maus, tidos culpados.

Seguem trôpegos, trágicos, nevoentos,

Cantando cantochões desafinados:

- Queixas dolentes de amaldiçoados,

- Tardios gestos de arrependimentos.

No olhar se notam chispas e rancores,

O medo à região do pranto ardente,

De infinitos pesares e negrores.

E vão seguindo, vão seguindo em frente,

Para si mesmos antevendo horrores,

Chorando e rindo convulsivamente!

Esta é uma das muitas homenagens que farei ao grande amigo.

Rubem Pereira e Clóvis Ramos
Enviado por Rubem Pereira em 18/08/2013
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