16 DE AGOSTO - DIA DE SÃO ROQUE

Hoje é dia 16 de agosto. Muitas recordações de minha infância voltaram. Nesta data, em muitas ocasiões, costumávamos visitar a cidade de São Roque a 60 km a oeste de São Paulo pela rodovia Raposo Tavares. Nessa época, início da década de 1950 a estrada era de terra sem quaisquer infraestruturas e com muito trânsito de caminhões que iam e vinham do sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Nosso meio de transporte era o caminhão, o famoso “pau de arara”. Dá para imaginar a poeira que tomávamos. Terminada a ida, sacudia-se a poeira e a primeira coisa a se fazer era entrar na Igreja, normalmente, lotada.

Nessa época, na cidade de São Roque havia um grande jardim ao fim de uma ladeira atrás da Igreja, onde os peregrinos faziam suas refeições. Como nossa turma era grande, estendíamos uma grande toalha e lá almoçávamos. Um verdadeiro piquenique de italianos com direito a sanfona, tarantela, pão e vinho. Sempre quando me recordo desses momentos não deixo de plagiar Ataulfo Alves: “Eu era feliz e não sabia”. Na verdade, nós todos éramos muito felizes e não sabíamos. Sob a alegria da tarantela aconteciam as paqueras. Muitos namorados lá se conheceram e casaram.

Mas essas comemorações não aconteciam somente no dia de São Roque. Nossa família ia lá fazer a Pascoela (costume italiano de estender também para a segunda feira o dia de Páscoa para liquidar os alimentos que sobraram do domingo). Era uma reunião maravilhosa de famílias italianas se solidarizando. Levei muito tempo para entender como um Santo de origem francesa tinha tantos devotos italianos. Nunca é tarde, entendi hoje quando entrei no site da cidade e li sobre a vida de São Roque. Toda sua missão foi desenvolvida na Itália e integrando a população da cidade, há muitos habitantes de origem italiana, principalmente, agricultores e vinicultores.

Nesse jardim, hoje ainda existente, porém muito menor, devido a uma avenida marginal que o corta, as árvores estavam todas marcadas com corações e o nome dos namorados. Embora fosse criança, eu também deixei meu nome em uma delas, prática que hoje condeno. Mas há 60 anos quem pensava em preservação da natureza? Respeito às árvores e animais? Contribuíam para dar alegria a esse jardim alguns serelepes (esquilos) e alguns bichos preguiça.

À tarde saía da Igreja a procissão e nós aguardávamos passar pelo jardim para voltarmos a São Paulo. Era um espetáculo marcante. Numa dessas procissões, o andor estava todo ornado com flores amarelas de ipês, uma das flores que mais admiro. Na passagem da procissão, fazíamos as últimas orações pedindo proteção para a nossa volta de “pau de arara”. Era muito importante, pois muitos abusavam um pouco mais do vinho e voltavam dirigindo. Graças a Deus e a São Roque nunca sofremos nenhum acidente, mas vimos muitos acontecerem.

O tempo passou e eu cheguei à septuagésima idade, mas nunca deixei de visitar a cidade de São Roque onde sinto uma paz interior intensa e das coisas que mais aprecio é rezar o Pai Nosso em latim escrito em partes nas estações da Via Crucis da Igreja Matriz.

Santo Bronzato 16/8/2.013

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 16/08/2013
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