MEU PAI

MEU PAI

As lembranças levam-me repetidamente até os meus dois a três anos, enchendo meu peito de saudade daquele tempo feliz. Meu pai chegava da roça e mal ele sentava, eu já corria e me aboletava sobre seus pés. Agarrado às suas mãos, fazia de suas pernas minha gangorra, e ele, sorrindo, me balançava para cima e para baixo dezenas de vezes, parecendo nunca se cansar. Outras vezes, ambos sorrindo, ele me apertava com muito amor entre seus braços fortes até eu gritar.

Mas o mais gostoso, que eu lembro, era andar de paca-paca, escarranchado em volta de seu pescoço, e ele se fazendo de meu cavalinho trotador.

Eu já era bem crescidinho quando fiquei sabendo que, para os estranhos à família, ele tinha outro nome. Até aquele dia, eu pensava que ele fosse papai de todo mundo. “Papai” era somente para mim e meus irmãos. E fiquei contente com a descoberta

Seu lugar à mesa era sagrado. Sentava-se sempre no meio do banco enorme. De um lado e outro, os filhos lhe apresentavam as iguarias, para que ele se servisse primeiro, tal era o respeito que tínhamos por ele.

Na roça, ele era imbatível. No falar de hoje, eu diria que sua enxada, sua foice eram eletrônicas e seus braços biônicos. Sua força parecia-me descomunal.

Quantas outras lembranças!... Todas de cenas felizes. Nunca recebi dele um castigo, uma repreensão, uma palavra áspera. Mas o respeito que eu tinha por ele era tão grande quanto a saudade que hoje eu sinto. Quando me falavam do Papai do céu, eu imaginava Deus igualzinho a ele, meu papai da terra.