PREFÁCIO DO LIVRO BARRA DO ROCHA- FRAGMENTOS DE SUA HISTÓRIA

Durval Pereira da França Filho

Historiador, Mestre em Cultura e Turismo

Em Barra do Rocha – Fragmentos de sua História, Valdinete Afra S. Bulhões vai em busca de fatos guardados na memória particular e coletiva para trazê-los ao conhecimento público. E nada é melhor que a memória para significar que algo aconteceu, porque não se trata simplesmente de uma ferramenta para se guardar informações, mas como capacidade de (re)significação das coisas e de si mesmo.

A memória é a representação de coisas e fatos acontecidos para serem trazidos a uma possível reconfiguração. Para os gregos, a deusa Mnemosine, mãe das musas e protetora das artes e da história, possibilita aos poetas as lembranças do passado para transmiti-lo aos mortais. O poeta então resgata do esquecimento o que é importante num processo de rememoração. Assim, a memória é uma construção feita no presente a partir de ações vividas e experimentadas no passado, seja pelo indivíduo, seja pelo grupo ao qual ele pertence.

Esta memória coletiva tem importante função de contribuir para o sentimento de pertinência a um grupo de passado comum que a compartilha, tanto no campo histórico, da realidade, como no campo simbólico. A memória individual alimenta-se da memória coletiva e histórica e inclui elementos mais amplos, além do indivíduo e seu grupo.

Valdinete não se propõe escrever a história de Barra do Rocha. O que ela quer mesmo é resgatar fragmentos, lembranças de acontecimentos adormecidos nos escrínios da memória, para reconfigurá-los no presente. O que ela gosta mesmo é de fazer poesia, mas deseja que esses pequenos retalhos possam ser aproveitados no futuro por alguém que queira construir a história de Barra do Rocha ou de qualquer outra cidade da região.

O espaço onde uma cidade se constrói é o lugar em que homens e mulheres, crianças e idosos sonham, projetam e realizam suas vidas, nem sempre como gostariam, mas como as circunstâncias possibilitaram. É nesse contexto que a autora se debruça para recolher os fragmentos, para falar da formação do espaço onde se localiza o município, da presença de pessoas as mais diversas que aí chegaram atraídas pelo eldorado do cacau; para falar da luta pela sobrevivência desses primeiros moradores e da luta pela emancipação política. Economia, comércio, iluminação pública, água tratada, saúde e educação, estradas e tropeiros são pedaços de história descobertos e que ela tenta resgatar.

A rememoração de Valdinete não fica simplesmente no campo do real. Evoca também práticas várias de caráter simbólico, usos e costumes, crenças e crendices, fatos folclóricos que não estão limitados ao município de Barra do Rocha, mas estão presentes em toda a região cacaueira. Muitos desses fatos, realçados no texto, estão relacionados com a educação da época e sua pedagogia do terror; com questões de saúde, como garrafadas e benzeduras, e com a total falta de controle de natalidade, o que resulta em elevado número de filhos, mesmo entre aquelas famílias consideradas esclarecidas.

Enfrentando as dificuldades decorrentes da falta de documentação oficial, a autora recorreu à fala do povo, médicos, advogados, professores, políticos e trabalhadores em geral, para registrar uma visão dos acontecimentos através da memória. Assim, no ano do cinqüentenário do município sulbaiano, Barra do Rocha – Fragmentos de sua História não é simplesmente um presente para os barrochenses, mas para todos os habitantes da região cacaueira e uma contribuição valiosa para os estudiosos da História Regional.

DURVAL PEREIRA FRANÇA FILHO
Enviado por Valdinete Afra Bulhões em 09/08/2013
Reeditado em 09/08/2013
Código do texto: T4427045
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