Pelas revelações casuais em seus escritos, ela se encontra bem resolvida nos negócios, nas finanças, em sociedade, no amor; triunfante, bailando em felicidade... Enfim não depende da Literatura para viver, nem para fingir ventura.
   Paradoxalmente, todavia, depende da Literatura para sobreviver.
     Por quê?
   Porque ela se projeta como uma oficina producional, escrevendo muito, partindo dos fatos e experiências para a criação artística, administrando com talento 
sorriso da comédia, a surpresa do drama e a perplexidade da tragédia disponíveis no mundo
 
 Leitor comum, apenas interpretei mais de mil páginas suas, onde ela vai do Olimpo ao Hades, da Terra ao Infinito, das montanhas aos mares, das Novas Iorques aos Saaras, expondo-se valente, honesta e dignamente.

    Se ou quando porém cessar a inspiração (ou ela pensar que cessou!), Lady submergirá, sucumbirá, fenecerá. Despedir-se-á desta existência que tanto abomina e (inconscientemente) tanto ama.

    Cérberus uivará. Caronte exultará. E anunciarão em seus dialetos tenebrosos: "A Princesa das Trevas chegou! Ei-la, rainha Perséfone, a sua dama de companhia!"

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    Quem ama, protege – até literariamente. Lady se envolve com desmedida intensidade com seu bem, celebra-o, risonha, corpo ofertado em delírio, alma feliz de criança - intimidades...

     Só que quando, computador e canções a tiracolo, inicia a jornada aos seus subterrâneos tétricos, míticos, fabulosos, ao encontro das Moiras, das Fúrias, de Cérberus e dos Portões do Nunca, escoltada por nuvens de corvos, bandos de gárgulas e legiões inteiras de arghs!/rêmoras/losnas, cessa a sucessão de louvores – protegendo-o calada. E prossegue a peregrinação solene, em silêncio, sombras afora, escoltada pari passu pela Dama da Foice e a Dama da Foice...
 
    Seus versos, esconderijo do amado.
 Percebe-se nela certas atitudes de mãe virtual. Uma maternidade sub rosa(*), adivinhada só pelos que, como eu, vivenciaram essa obra.
    Obra já publicada e deletada várias vezes. E, para complicar a fortuna crítica dos seus escritos, Lady recusa leitores e comentários, dificultando suas tarefas naturais... Essa indecisão só tumultua as coisas, dificultando projeções e opiniões da massa, que é quem consagra um escritor. (Afinal, o que ela pretende?!)
     Alguém precisa convencê-la a publicar um livro!

     
    Por quê ela preferiu os Infernos para habitar, apesar dos apelos celestiais? Lady é burra? Louca? Pecadora? - Não, nem burra, nem louca nem devassa. Ela é simplesmente lúcida, lógica, coerente. Pois se tanto Céu quanto Inferno são ficções mentais, limites morais, por quê ela escolheria a ficção mais bonita? Por acaso não possui ela o direito de optar entre essas duas invenções da alma humana?
     - Possui. Então, escolheu as chamas inapagáveis, as garras da amargura e as patas da aberração ao coro angélico, às imagens imaculadas, às miríades de "Alô, bem-vinda!", exercendo sua autonomia literária. Qual o problema?

 
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     Lady, a nossa Augusto dos Anjos de saias. Basta folheá-la um pouco para constatar sua augustianidade. Um presente do Mal. O triunfo da infelicidade. Só derrotas - transfiguradas em textos inquietantes, polissêmicos, ambíguos, pavorosos, cativantes. Originalidade. Textos onde absolutas navegam antíteses, 
eufemismos, metáforas, metonímias, paradoxos, personificações...

    Sua literatura incomoda. Intriga. Desilude. Caos cruel. Reino místico. Delírio lírico. Desaforo, insulto, ofensa, impacto, abrigo. 
   Suas produções se assemelham a aleluias perversas,  cânticos sórdidos, louvores pérfidos, hosanas tímidos, primícias trágicas, salmos ao contrário, orações  anti-Deus.

     
   Alguns termos pescados em cinco poemas do seu blog "Efemérides de Epifania":
     adeuses
     agouros
     agulhas
     âncoras
     avessa

     cadáveres 
     cais 
     carcaças 
     cárceres 
     células
     Cérberus

     cinzas
     cortes 

     corvos
     decomposição
     desertos
     destino

     escuridão 
     espinhos
     estrangeira 

     fantasmas 
     foices
     gárgulas
     gemidos 

     infernos
     lápides

     lenços 
     maldições
     margens
     medos
     morte
     naufrágios 
     ossos
     pacto 

     penumbra
     porões

     putrefação
     raízes 

     sepulcros 
     veias  
     vermes...


   A única alegria se encontra refugiada em poucos e tímidos vocábulos como:
     anjos
     asas
     infância
     braços 
     pássaros
     pátria

     perfumes
     pétalas 

     primaveras 
     saudades
     sonhos
     ventos 
     e voo. 


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 Uma literatura que tenta agarrar vozes e gestos. Uma literatura de condenados para condenados. Uma literatura sem salvação.

         Sua sala:   
         
o)O(o LADY LAURA NOTURNA o)O(o
        
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      Referências válidas:
           "Poemas" (Safo - Grécia)
          "Poemas" (Safo - Grécia)
                       (obras diferentes)
              
Português: linguagens (volumes 1, 2 e 3),
de William Roberto Cereja e Thereza Cochar
Magalhães. 5ª edição. Atual Editora, SP, 2005.


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"A expressão latina sub rosa significa sob a rosa. É usada nos países de língua inglesa para denotar segredo ou confidencialidade."

(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sub_rosa)


 
 
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 20/07/2013
Reeditado em 27/09/2013
Código do texto: T4396051
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