PARA WALTER BRIOS - um dueto (in memoriam)

(dueto para e com Walter BRios, que faleceu em 18/07/13 *)

LADO A LADO, SEPARADOS

Nunca os mesmos bancos escolares.
Nunca as mesmas brincadeiras de criança.
Nunca as mesmas ruas de passeio.
Nunca os mesmos discos na vitrola.
Nunca os mesmos livros nas mãos.
Nunca os mesmos filmes lado a lado.
Nunca as mesmas festas, danças e folias.

Nem as mesmas dores.
Nem as similaridades de amores.
Nem os caminhos e buscas.
Nem as perdas e desencontros.
Nem os encontros ao pé-de-ouvido.
Nem os mesmos tormentos e dúvidas.
Nem as certezas e ideologias.
Nem as mesmas referências.

Nem o cruzador dos sentidos.
Nem um olhar.
Nem um abraço.
Nem um toque.
Nem um beijo.
Nem riso, esgar ou sorriso.
Nem lágrima ou choro.

Sequer um café num desses bares da moda,
Um almoço num domingo,
Um chá com biscoitos ao cair da tarde,
Um brinde com cálices e vinho.
Ou a mesma paisagem.

Nada o mesmo.
Tudo singular e em separado.

E no entanto,
Toda a diferença e distância
Viram identificação
Intimidade
Comunhão
Viram eternidade
Na dança que une você e eu,
Enlaçados de amizade.

Trama dos deuses...
Sopram rostos
E unem almas em trança.

(para José Walter BRios, com amor)

Kathleen Lessa ©

25/11/2004, São Paulo

SEPARADOS, NÃO DESAMPARADOS

Não no mesmo banco, mas em escolas.
Não brincamos iguais, mas fomos crianças.
Não na mesma rua e no mesmo passeio
Os discos foram outros em vitrolas diferentes
Livros de outras letras, mãos e canetas
Cinema às vezes, cada um do seu lado
Festas sem danças e poucas alegrias
Não foram iguais, as dores foram muitas.

Meus amores foram poucos, mas gostosos e safados!
Faltou alguém,
(Terá sido você?)
Para cruzar os sentidos
Para bater um olhar
Tocar um abraço
Colar um beijo na boca
Rasgar um sorriso no rosto
Uma lágrima de saudade na face

Sozinho nos bares e em outros lugares
Domingo almoçando e os Beatles cantando
Ah! O chá das cinco eu já tomei
E nunca foi inglês.
Vinho depois das seis.
Mas cada um distante e desavisado

Entretanto a rede nos une
E nos dá os sinais de vida e pulsação.
Nos torna íntimos, mão a mão
Numa só comunidade
De vida eterna e sincera fraternidade.

Deus soprou nossos corpos.
Ilumina nossos rostos
E embala nossas almas entrançadas.

((Para Kath, minha amiga))

* NOTA DE FALECIMENTO:
http://recantodasletras.com.br/mensagens/4394849

O poeta José Walter faleceu ontem, 18/07/2013.