Rafaela
Bem, então é isso. Eu poderia aproveitar este momento de quarto escuro e de solidão e lançar todo meu amor sobre você. Começaria bem-dizendo sua personalidade doce ou o suave perfume que exala dos teu cabelos bem negros e bem cuidados. Mas aí eu sei que soaria adocicado demais, até para mim, quanto mais para você. Prefiro bendizer a vontade de Deus em conceder-nos um laço de família, um mesmo sangue que nos une e mantém em comunhão.
Por falar em comunhão, e se eu exaltasse a nossa harmonia? Em torno de nossos seres sensíveis e de fácil compreensão? Mais falso impossível, haja vista que em determinados momentos somos insuportáveis um para outro e fraca é a nossa vontade de nos amarmos como a um irmão. Mas, mesmo eu querendo por momentos te chacoalhar e você me impor a brutalidade da tua mão, sei que ainda é maior a nossa compaixão. A nossa força de vontade, humildade, nossa intimidade e a nossa união. Humildade que nos faz admitir nossos erros um para com o outro, intimidade que nos faz pedir perdão e a força de vontade que nos faz perdoar e varrer toda a maledicência para fora do coração.
O que posso dizer, usufruindo ainda do quase anonimato desse breu, que nossa cumplicidade, que faz você escutar minhas angústias, e às vezes vir com a solução; ou a confiança que sente em mim para compartilhar alguns segredos que te sufocam e que eu carrego como se fossem meus segredos sufocantes; (essa cumplicidade) de nos aturarmos em dor – se eu chorasse você me socorreria – e alegria – como almoço em família, as festas ou até a rotina do dia a dia – que todo o nosso sentimento, desde os mais simples momentos, até, sei lá, nossos grandes ritos de transição, dá-me confiança de aqui e agora te confessar todo esse sentimento fraternal que mantinha em privação.
Nem sei para que tantas palavras, ora inúteis, para descrever o mais simples: eu te amo. Do jeito que você é, simples assim. Nem preciso dizer mais nada. Para que acrescentar que você é muito importante na minha vida? Ou que te amo como a uma irmã? Como eu disse, soaria inutilmente, carecendo de provação. Então prefiro simplesmente dizer (novamente): Amo-te minha prima linda! Escrevo agora, sem pressão, sem euforia, usando a razão.
Amo-te mesmo tendo raiva de você e da tua mania de dizer não. Amo-te mesmo quando você não é uma flor de simpatia e quer ter sempre razão. Amo-te quando parece que eu não te amo, ou quando meu sorriso esconde-se gélido e eu te fecho meu coração. Então, para esses momentos cruéis de esquecimento ou que meu amor por ti precise de libertação, para esses momentos deixo escrito esta declaração. Sei que a vergonha irá me perseguir ainda por algum tempo. Mas e daí? Nossa família precisa de mais adesão. E eu, ridiculamente amando, talvez seja uma opção.