Enxaguando, Secando e Vivendo Graciliano
Jorge Luiz da Silva Alves
Soaria ofensivo para a lacônica genialidade do ‘Graça’ que justamente eu, um cardeal da verborragia gratuita, fizesse-lhe o papel de porta-voz. Marcado por sua agreste origem, semiáridas dificuldades políticas e pessoais, Graciliano pontificara sua escorpiânica pena sob o mote das lavadeiras alagoanas: “Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício (...) pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar feito ouro falso: a palavra foi feita para dizer”.
É isso: em Alagoas, como os alagoanos. Por quê me ofenderia com tal espartanismo? Filho de terra fértil e mar petrolífero, abençoado pela natureza luxuriante, cercado pelo poder amealhado por sucessivas levas governamentais desde os vice-reis, sou eu quem luta, contraditório e contrariado. Contraditório, pela sina desta crônica; contrariado, pois não sou o instrumento adequado a contrapor o cabedal graciliânico. Desenho em folha – prolixo por licença poética, neológico por perceber nessa estratégia o melhor veículo para a difusão da interessante leitura – as minhas idéias pelo mundo, este de hoje o dobro e meio do mundo que cercava Graciliano.
É isso: contrario a angústia de tanta vida seca nesta seara de meninos pelados, revelando no frio cárcere de minhas beócias memórias, que sob a titânica pena do ‘Graça’ cabe muito mais que dois dedos de prosa; uma profunda percepção além do oblíquo olhar de um Alexandre qualquer a perscrutar São Bernardo e toda a terra desses modernos e ferozes caetés neoliberais. É isso. Hosana ao Mestre, com m maiúsculo, de prosas maiúsculas, incisivas, diretas, nunca de enfeite ou miçanga literária.
Econômico no verbo mesmo no mais aceso da perseguição do Estado Novo, confessara à esposa a tremenda inutilidade de defesa das inócuas acusações por subversismo(*). Fruto de um tempo – e um mundo – onde a iniciativa valia muito mais que a palavra, o ‘Graça’ mostrou-me a importância da concisão em suas obras, escritas com o tinteiro do sofrimento e coragem. Espero que não soe como ofensa os garranchos por mim desenhados nesta folha; neste novo século de luzes, plasticidades e socialidade eletrônica, urge enxaguar suas linhas tortas pelo extremo talento no dourado tanque do presente para deleite desses tolos globalizados.
Tal e qual as alegres comadres-lavadeiras do Jacarezinho. E suas netinhas funkeiras.
(*) neologismo
http://www.jorgeluiz.prosaeverso.net
Jorge Luiz da Silva Alves
Soaria ofensivo para a lacônica genialidade do ‘Graça’ que justamente eu, um cardeal da verborragia gratuita, fizesse-lhe o papel de porta-voz. Marcado por sua agreste origem, semiáridas dificuldades políticas e pessoais, Graciliano pontificara sua escorpiânica pena sob o mote das lavadeiras alagoanas: “Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício (...) pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar feito ouro falso: a palavra foi feita para dizer”.
É isso: em Alagoas, como os alagoanos. Por quê me ofenderia com tal espartanismo? Filho de terra fértil e mar petrolífero, abençoado pela natureza luxuriante, cercado pelo poder amealhado por sucessivas levas governamentais desde os vice-reis, sou eu quem luta, contraditório e contrariado. Contraditório, pela sina desta crônica; contrariado, pois não sou o instrumento adequado a contrapor o cabedal graciliânico. Desenho em folha – prolixo por licença poética, neológico por perceber nessa estratégia o melhor veículo para a difusão da interessante leitura – as minhas idéias pelo mundo, este de hoje o dobro e meio do mundo que cercava Graciliano.
É isso: contrario a angústia de tanta vida seca nesta seara de meninos pelados, revelando no frio cárcere de minhas beócias memórias, que sob a titânica pena do ‘Graça’ cabe muito mais que dois dedos de prosa; uma profunda percepção além do oblíquo olhar de um Alexandre qualquer a perscrutar São Bernardo e toda a terra desses modernos e ferozes caetés neoliberais. É isso. Hosana ao Mestre, com m maiúsculo, de prosas maiúsculas, incisivas, diretas, nunca de enfeite ou miçanga literária.
Econômico no verbo mesmo no mais aceso da perseguição do Estado Novo, confessara à esposa a tremenda inutilidade de defesa das inócuas acusações por subversismo(*). Fruto de um tempo – e um mundo – onde a iniciativa valia muito mais que a palavra, o ‘Graça’ mostrou-me a importância da concisão em suas obras, escritas com o tinteiro do sofrimento e coragem. Espero que não soe como ofensa os garranchos por mim desenhados nesta folha; neste novo século de luzes, plasticidades e socialidade eletrônica, urge enxaguar suas linhas tortas pelo extremo talento no dourado tanque do presente para deleite desses tolos globalizados.
Tal e qual as alegres comadres-lavadeiras do Jacarezinho. E suas netinhas funkeiras.
(*) neologismo
http://www.jorgeluiz.prosaeverso.net