A FUNÇÃO E O ÓRGÃO
NATÁLIA CORREIA, poetisa e ativista açoriana (1923 - 1993), autora de vários livros, foi deputada à Assembleia da República (1980 - 1991) e interveio politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Foi a autora da letra do Hino dos Açores. A sua obra está traduzida em várias línguas.
Dotada de um temperamento truculento e impetuoso, foi protagonista de uma cena memorável.
A propósito de uma afirmação do deputado João Morgado, do Centro Democrático Social, sobre a questão do aborto, em que este parlamentar afirmara que o ato sexual só é justificável tendo por objetivo a procriação, Natália Correia, pertencente ao Partido Social Democrata, distribuiu a todos os membros da ilustre Assembleia da República Portuguesa o seguinte poema, dedicado ao seu colega:
Já que o coito - diz Morgado
Tem como fim cristalino
Preciso e imaculado
Fazer menina ou menino
E cada vez que o varão
Sexual petisco manduca
Temos na procriação
Prova que houve truca truca.
Sendo pai de um só rebento
Lógica é a conclusão
De que o viril instrumento
Só usou - parca ração! -
Uma vez. E se a função
Faz o órgão - diz o ditado -
Consumada essa operação
Ficou capado o Morgado.
4/06/2013