QUANDO ERA CRIANÇA...
Quando era criança e vi meu avô-(pai da finada minha mãe)-fazer “barbeiragens”,na cidade onde nasci, em um carro pequeno que importou,na época, da antiga Tchecoslováquia,país satélite da antiga União Soviética, hoje,separada em duas nações,por razões étnicas e políticas.Não entendia bem como era possível isso acontecer...”barbeiragens”,ao longo da infância!
Era um carro marca “Skoda”,que hoje é “agulha no palheiro”,até entre os mais poderosos colecionadores de veículos antigos.Chegou todo encaixotado de madeira na cidade.Eu vi,quando o carro foi aberto.Era de cor amarela,bem suave...bonito!!A industria nacional nem existia...os carros eram mesmo importados!!
Hoje, diante dos meus setenta anos vejo a razão desse fenômeno, grotesto,porque ando também,confesso, fazendo “barbeiradas” ao dirigir... São os anos que se somam e subtraem o vigor da juventude... A  habilidade perdeu fôrça.As companhias de seguro,ao que parece, andam fugindo de mim...Acho que breve não devo mais assumir qualquer volante.Já,para ir a São Paulo, vou com motorista no volante.É um inferno agüentar o trânsito da Capital paulistana.Viver em São Paulo precisa ter muita saúde e além,ser jovem para suportar aquele “inferno”.Milhões de carros,milhões de gente...Assim,não dá.O tráfego,nem se fala...alguma coisa precisa ser feita,com urgência,porque São Paulo,já está parando!!Quando morei em Sampa,no século passado, se dizia:”São Paulo não pode parar”.Entretanto, está parando!
A facilidade que o governo deu aos fabricantes de veículos e os créditos à longo prazo deu no que deu...muito embora,não sou nada contra o chamado crescimento econômico-financeiro da industria e da população. Por outro, as ruas e avenidas não estão suportando mais essa demanda, mesmo com o metrô e uma suposta abundância de coletivos,onde a população anda igual “gado embarcado”...Hoje,já se divisa o caos.Sampa para mim,hoje,é só para quem precisa mesmo...caso contrário,estamos fora.Sem falar,na violência,que é outro assunto.
Hoje, eu entendo melhor o que acontecia com meu avô –imigrante italiano- que chegou no Brasil, sem “eira nem beira”-como se dizia na colonização portuguesa,para aqueles que não tinham imóvel,digo casa,e sem dinheiro,viviam de aluguel...Foi em Recife que aprendi que “eira e beira” eram os ornamentos dos proprietários-portugueses de possuíam casas...na fachada colocavam os enfeites na fachada que eram “eiras e beiras”,distinguindo-se dos infelizes despossuídos...que pagavam aluguel ou moravam de favor!
Entretanto, o “nono” fez a América,pois de auxiliar de pedreiro, ou seja servente,acabou ao longo da vida como “projetista-construtor”,registrado,na época, pelo CREA.Não haviam tantos engenheiros. Fazia maravilhosas  casas que até hoje ornamentam minha cidade natal.Hoje,  tem nome de rua esse imigrante,que,ainda formou dois filhos médicos,numa época difícil e com tenacidade construiu sua  vida,deixando ainda alguma coisa para os que ficaram,como sucessores.Fez sua historia.
Com sua morte, o carro “Skoda” foi vendido não sei para quem e também nunca mais o vi,só lembro que estava bem amassado, eis que o “condutuore” era mesmo “barbeiro”...tudo, em razão da idade. Estou, agora, chegando,inexorável, na idade de meu avô...É a vida.
A vida como ela é.