MÃE...

ERA FIM DE TARDE O SOL ESTAVA TINGINDO AS MONTANHAS AO HORIZONTE DE DOURADO, AS PESSOAS VOLTAVAM APRESSADAS, ERA SEXTA FEIRA FIM DE TARDE, TODO MUNDO ANIMADO COM O FINAL DE SEMANA QUE SE INICIAVA, MAS NO MEIO DAQUELA CORRERIA UMA MULHER ANDAVA CALADA DISTANTE, SOLITÁRIA TRAZIA NAS MÃOS UM PEQUENO EMBRULHO, ALGO BEM SIMPLES.

ELA ERA JOVEM AINDA APARENTAVA TER ENTRE 40 OU 45 ANOS DE IDADE, CABELOS NEGROS, OLHOS ENTRISTECIDOS, UM VESTIDO VELHO, DE CORES SUAVES, GASTO MAS CONSERVADO, OS POUCOS CABELOS PRESOS NO ALTO DA CABEÇA EM UM PEQUENO COQUE, PRESO POR UMA PRESILHA SIMPLES DE PLASTICO, A DEIXAVAM MUITO BONITA, ELA ANDAVA ENTRE AS PESSOAS COMO SE TODAS AS OUTRAS FOSSEM INVISÍVEIS, NOS PÉS UMA SANDALHA DE DEDO, JÁ GASTA TAMBÉM.

ANDOU MUITO ATÉ ENTRAR EM UMA LOJINHA NO FIM DA RUA, FIQUEI INTRIGADA COM A CENA resolvi sair andando atras daquela mulher tão distante do que se passava a sua volta e seguia rumo a um prédio abandonado. ELA ENTROU E CONTINUOU ANDANDO SEM NOTAR MINHA PRESENÇA O PRÉDIO TINHA UMA PORTA NOS FUNDOS QUE DAVA PARA OUTRA RUA ELA SEGUIU ATRAVESSOU A RUA DE TRÁS SEM NADA FALAR NEM COMENTAR, ANDAVA HORA OU OUTRA SORRIA, MAS SEMPRE EM LINHA RETA, FOI QUANDO NOTEI QUE ELA ENTRAVA NO CEMITÉRIO, CONTINUEI ANDANDO ATRÁS DELA. ELA ANDAVA POR ENTRE AS COVAS A PROCURA DE UMA EM ESPECIAL, ATÉ CHEGAR A UMA QUE NÃO TINHA MAIS IDENTIFICAÇÃO. ELA SENTOU-SE SOB OS JOELHOS E FALOU BAIXINHO CONTOU DO QUE A VIDA ESTAVA LHE OFERECENDO, DE COMO ESTAVA SE SENTINDO E DE COMO AQUELA PESSOA LHE FAZIA FALTA, CHOROU UM POUCO, DEPOIS SE REFEZ E PÔS-SE A FALAR DE NOVO, CONTOU DAS CRIANÇAS DA ESCOLA, DO DINHEIRO POUCO PARA PAGAR AS CONTAS DE COMO AQUELA PESSOA LHE FAZIA FALTA. FOI ENTÃO QUE TOMEI CORAGEM E ME APROXIMEI:

- DESCULPE MAS NÃO PUDE DEIXAR DE OUVIR. É SUA MÃE QUE ESTÁ ENTERRADA AI?

- NÃO!

- SEU MARIDO?

- NÃO ESSE ESTÁ EM CASA COM OS OUTROS.

- ENTÃO QUEM É?

- É MEU FILHO MAIS VELHO QUE MORREU NUM ATAQUE A FAVELA ONDE MORO, COITADO ERA INOCENTE SÓ FAZIA ESTUDAR, E DEUS O LEVOU AGORA ELE É UM ANJO. QUE CUIDA DE NOS DE LÁ DO CÉU.

- EU POSSO AJUDA-LÁ?

- NÃO PRECISA ELE JÁ NOS AJUDOU MUITO. AMANHÃ É DIA DAS MÃES, FAZ 3 ANOS QUE ELE MORREU. SENTI MEDO DE NÃO RESISTIR E IR JUNTO COM ELE MAS TENHO MAIS 4 EM CASA PRA CRIAR QUE PRECISAM DE MIM, FOI ASSIM QUE VIM VIVENDO ATÉ HOJE. E É ASSIM QUE VOU VIVER. SABE PORQUE ESTOU AQUI HOJE?

- NÃO

- PORQUE SEI QUE ELE FARIA ISSO ELE FOI embora muito cedo moça...

era só um menino! mas Deus quis assim...

ELA LEVANTOU PASSOU POR MIM E SE FOI, FIQUEI INERTE EM PLENO DIA DAS MÃES UMA MÃE LEVAR FLORES PARA UM FILHO... PAREI E RESPIREI FUNDO E SEGUI-A ATÉ O PORTÃO ENFERRUJADO DO CEMITÉRIO, ELA SEGUIU PELA RUA SOLITÁRIA E CALADA, TIVE VONTADE DE ACOMPANHA-LA MAIS MAS JÁ ERA PRINCIPIO DE NOITE, TOMEI O PRIMEIRO ÔNIBUS PRA CASA E FIQUEI COM AQUELA CENA NA MEMORIA, NÃO ENTENDI NADA ATÉ VER MINHA MÃE DIZER QUE O MAIOR PRESENTE QUE RECEBE NO DIA DAS MÃES É O FILHO. AI ENTENDI O VALOR DAQUELE MOMENTO, DAQUELE CARINHO, DAQUELA CONVERSA QUE ELA TINHA COM O FILHO MORTO.

NÃO SOU MÃE MAS SEI QUE O MAIOR E MELHOR PRESENTE QUE EXISTE É TER UMA MÃE, NADA NEM NINGUÉM PODE SUPRIR ESSE AMOR, SABE SER FILHO É COMO SER MÃE, É SABER QUE SEMPRE ALGUÉM ESTÁ TE AMANDO MAIS QUE TUDO E ALEM DE TUDO. É AMAR ACIMA DE QUALQUER ERRO, ACIMA DA MORTE.

AQUELA MÃE ME FEZ PENSAR EM ALGO QUE EU PENSEI QUANDO ERA CRIANÇA, EU DOU A MINHA VIDA PELA MINHA MÃE.

Aglae Diniz
Enviado por Aglae Diniz em 15/05/2013
Código do texto: T4291966
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