ZÉ DA LUZ*

Só me restou o caderno

com as lições que ele escreveu

e no meu peito um eterno

sentimento de saudade

do velho mestre de banda,

meu velho mestre José.

Sim, José, como são tantos

os santos do céu sertão.

É tal qual diz a canção:

todo sertão tem um Zé.

Mas este mestre José

ele tinha mil sertões

de canções e de bandeiras,

de sambas, frevos, ladeiras

e por tudo amor dobrado

e um carinho ritmado

pela terra que o acolheu.

Lembro o andar sincopado

do referido José,

sim, não era qualquer Zé...

Este era um Zé da Luz

reluzindo em procissões,

arrastões enfrevecidos

seus bemóis e sustenidos

com o bombardino encantado

que tanto amor entoou

a troco de nenhum réis.

Por amor luziu canções,

orquestrou tantos sertões,

os sertões de tantos Zés.

Fecho os olhos, ouço... Ouçam!

Lá vem subindo a ladeira

trazendo consigo o dia.

A alvorada de alegria

vem na marcha mais festeira

no passo de um Madureira,

seu Zezinho, Zé da Luz

que com firmeza conduz

num só som a banda inteira.

Avante! Diz Madureira...

Rima tons, a banda induz

e a cada céu que produz

com acordes reluzentes

são mil anjinhos contentes

em intervalos azuis.

Abro os olhos e o real

desfaz meu sonho ciranda...

Cadê Zé em frente a banda,

seu bombardino, seu terno?

Só me restou o caderno

com as pautas que ele escreveu, mas...

cada andante acorde seu

fez-se luz sempre presente.

Feliz de quem teve um José

pra iluminar seu destino,

feito eu quando menino,

que pude aprender com Zé

a grafar as melodias

que Deus nos sopra na mente

e lhes digo francamente:

Passe o tempo que quiser

que a luz deixada por Zé

tempo algum jamais consome.

Mestre que é mestre é assim:

Já traz luz até no nome.

*Em homenagem ao Maestro José Pereira da Luz Madureira pela passagem das comemorações dos seus 100 anos de nascimento.