Como Ela Surgiu

Sempre fui um espelho de meu irmão. Mesmas roupas, mesmo cabelo, mesmo gosto e mesma face. Sim, uma mesma face, com a diferença da quantidade de pêlos que se podia encontrar no rosto de cada um. A falta de um pai colaborou para que a admiração surgisse. Mas pode-se dizer que foi apenas o início para uma paixão e dedicação à ele.

E então surge a arquitetura, que rouba-o de todos e o faz dela. Os seus dias e noites foram tomados para o estudo da mesma, a qual aprimorava-o a cada livro finalizado. Os cadernos tornaram-se incontáveis, as canetas e lapiseiras podiam ser encontradas por qualquer parte do apartamento, as folhas soltas com desenhos geométricos permaneciam espalhados por seu quarto enquanto eu tentava entender que mundo era esse que, consequentemente, estava me envolvendo.

E estava sendo bombardeado indiretamente por informações das quais eu desconhecia a procedência. Então me aventurei a entrar naquele ateliê que era o seu quarto e envolver com minhas curiosas mãos um dos tantos Moleskines que ali habitavam. Em meu quarto, folheava as páginas do pequeno caderno. Entre poesias e desabafos encontrava desenhos que mais tarde descobri serem chamados de croquis. Meus olhos brilharam. As formas, a geometria dos edifícios rabiscados e a co-relação com as poesias escritas no verso dominaram minha mente. Durante as próximas semanas me aventurava ao entrar e sair de seu quarto com, não apenas um mas vários, cadernos e livros os quais nem mesmo compreendia o título. Por vezes em nossas costumeiras conversas ele citava nomes e sobrenomes, frases e ideologias as quais eu não entendia mas refletia a cada momento pós conversa. Os surtos de sua genealidade tornaram-se frequentes e o desejo de fazer parte integral daquilo aumentava.

Conforme os meses se passavam as formas tinham sentido e coisas que antes tiveram sentido já não tinham mais, sobrenomes ganhavam relevância nas prateleiras das livrarias enquanto dentro de mim se aquietava o desejo de estudar sociologia e hauria o tesão pela arte-tetura.

Faço para o mundo, mas digam ao mundo que tudo que vier de mim nasceu dele.

Mateo Faria
Enviado por Mateo Faria em 23/04/2013
Código do texto: T4255517
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