COISAS DO MEU PAI
Eu vi meu pai garimpar nos sonhos
A certeza de um fio de esperança
O desejo de vencer essa distancia
Algo maior que o descrer bisonho
Eu vi o tempo impassivelmente
Pintar fio a fio o seu cabelo
Eu vi a vida sem desvelo
Riscar-lhe o rosto impiedosamente
Eu vi o seu silencioso algoz
Drenando-lhe o vigor
Cansando-lhe os olhos
E de forma cruel calando sua voz
Vi seu sorriso meio amargo
Triste, sombrio mas sem rancor
Ironizar a desventura e seu ardor
Reverenciar a noite e seus encargos
O vi desafiar o medo sabiamente
Brindando com a dor o licor da amargura
E na sala de espera com bravura
Buscando uma saída de emergência
Não vi meu pai da vida se despedir
Mas por saber de sua alma altiva
Por conhecer sua natureza emotiva
Sei que ele na partida chorou a sorrir.
r