MOACIR REBELLO DOS SANTO-MEU AMIGO

MOACIR REBELLO DOS SANTOS – MEU AMIGO

Pouco posso falar do Moa nadador, sei que foi um fenômeno e, mesmo quando já havia parado de nadar, ganhou uma prova de nado costas de mim. Na época (1964, 1965, por aí) eu estava bem treinado e costas era minha especialidade. Mas fazer o que, contra o talento não há esforço que vença. E o Moa era um ponto fora da curva, acima dos padrões. Nadava bem, jogava vôlei bem com menos de 1,70m. Quando se fala bem é isso mesmo, jogou na seleção santista com Negrelli, na época o melhor jogador de vôlei do Brasil, e cia. E as estórias sobre seus feitos eram muitas. Saiu patinando e jogando hóquei na primeira vez que colocou um par de patins nos pés, bom de briga, fumou perto do depósito de combustível no embarque da seleção para o Pan Americano de Chicago, foi multado em Chicago por dirigir sem habilitação, etc., etc., etc.. O cara era uma lenda viva! Criticado por muita gente politicamente correta, adorado e cultuado por nós, seus amigos, até hoje não conheço uma pessoa que lhe foi indiferente. Ninguém teve esse sentimento em relação a ele.

Todo esse lado o Vladimir descreveu muito bem, com a habilidade que lhe é peculiar. Quero me referir ao Moa amigo, com o qual tive o prazer de conviver, numa relação muito rica em alegrias, experiências, cervejas, churrascos.

Concluí a faculdade de engenharia em Curitiba e, início de 73, voltei para Santos. Da nossa turma de natação fui o primeiro casar, o Moa foi o seguinte. Marcamos um encontro das duas famílias. Moa, casado com nossa grande amiga Márcia Filgueiras na época, morava na Ponta da Praia, ao lado do estacionamento do Clube de Pesca. Havia crescido no bairro. Recebido pela Márcia, sentei em um sofá da sala aguardando o Moa.

- Oi, Miorim! Segura aí!!

Mal consegui desviar do gato que ele atirou em minha direção. Sim, a recepção foi essa. Achei gozado e rimos muito. Era impossível para mim ficar bravo ou com qualquer outro mau humor em relação ao Moa. “Esse é o Moacir!”, pensei.

Esse foi o início de um convívio agradabilíssimo com uma pessoa ímpar, durante uns 10 anos. Domingos, vôlei na praia do Boqueirão. Uma das marcas registrada das praias santistas são as barracas das mais diversas associações, clubes, sindicatos, empresas, universidades, etc. As barracas dos engenheiros, advogados e dentistas eram juntas uma das outras e possuíam suas redes de vôlei. Moa jogava na rêde dos advogados, onde só tinha “fera”. Eu, na rêde dos engenheiros, onde se reuniam os piores jogadores da praia. Depois do jogo, nada como uma cervejinha e um papo com os amigos. Fazíamos uma roda de cadeiras, próxima ás barracas e aí acontecia de tudo, surgiam conversas de todo tipo, brincadeiras, trocas de experiência. Como os frequentadores, o nível era muito bom e sadio. Cada personagem! Nelson, o Tachinha, advogado; Cidão, Alcides, advogado; Juvenal, dentista gordão; Platão, dentista muito alto de nariz grande; Geraldinho Quariguassi, dentista baixinho e muito brabo. E uma enorme galeria de pessoas que circulava pelas barracas. E ficávamos ali, sentados sob os coqueiros, dando muita risada. E o Moacir conhecia todos, era amigo de todos. E a gozação rolava solta.

Uma vez convidaram Geraldinho para passar picaré ( um tipo de rede puxada por pessoas) na hora do Fantástico( na época era imperdível). Geraldinho foi, viu um pessoal dentro d´àgua e começou a chamar em altos brados:

-Cidão! Cidão!! É o Geraldinho!

Só ouviu uma voz de dentro d´àgua:

- Geraldinho, vá a merda que aqui não tem nenhum Cidão!

Fim de semana seguinte Geraldinho tem certeza que foi Moa quem mandou ele à merda. Mais gozação.

Estávamos aguardando fora dos carros a fila da balsa do Guarujá para irmos jantar, em quatro casais. Eu, João Rupp( engenheiro meu amigo), Vasco Faé (ex-presidente do Santos) e Moa, com as respectivas esposas. Dois homens se aproximam por trás do Moa e da Márcia. Só vi o Moa empurrar a Márcia pra frente, rodopiar e dar um murro na cara de um dos sujeitos, derrubou o cara no chão e rolou com êle, a porrada comendo solta. Aparta daqui, separa dali, o amigo do cara levou o mesmo embora( estava meio “chumbado” ). Explicação do Moa: o cara ia passar a mão na Márcia. Passamos a noite comentando o ocorrido. Moa tomava a atitude na hora, não tinha muita conversa.

Domingo depois da praia sentava em frente a televisão e assistia “Show do Esporte” na Bandeirantes do começo ao fim. Vendo esporte, esquecia do mundo. Realmente era fanático por qualquer tipo de atividade física.

Fui seu sócio em uma academia, viajamos juntos várias vezes. Em Cuiabá, nosso papo estava tão animado que ele perdeu o avião.e tinha

Nos finais de ano, a festa era em minha casa. Ruggero Malagolli, Sérgio Heleno, Marcão Cidadão, Barreto, Dirceu Vieira, Moa, esposas, filhos . Eram festas muito agradáveis, que a amizade nos reunia e a alegria sincera reinava. Ciumento, ficou de plantão na porta da sala no primeiro dia de faculdade da Márcia.

Com o tempo, notei que êle havia ficado mais tolerante. Era impressionante a quantidade de amigos do Moa, com uma relação de real amizade com todos que o conheciam. Não era aquele negócio de “-Oi, tudo bem?”. Ele sabia e lembrava coisas de cada amigo, perguntava do pai, etc. Marcava um jantar conosco, geralmente aquela Culinária Bárbara ( churrasco de costela, dobradinha, etc.). A última vez que vi o Moa foi em uma feijoada em sua casa de Boracéia. Aliás, que feijoada! Amigos, bate papo, caipirinhas, etc.. Tudo de bom. Uma bela confraternização. Não sei se vale o chavão ”descanse em paz” para o Moacir. Era incansável.

Saudades de todos nós, seus amigos.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 24/03/2013
Código do texto: T4205033
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